A ponte, as palmeiras e o sul
Vista da rua do Gólgota com palmeiras-das-Canárias (Phoenix canariensis) em primeiro plano
É por pontes como esta que a cidade se esvazia, rumo ao sul. O sul, na acepção mais extrema do termo, é a única parte do país que não fecha em Agosto. Por isso, e para não definharem à míngua de companhia e de entretenimento (e até de coisas mais básicas), é no sul que os nossos concidadãos vão desaguar em grossas torrentes. Se o país fosse a tábua de um baloiço, nós aqui a norte, em número escasso para equilibrar as hostes sazonais a sul, ficaríamos o mês inteiro a espernear aflitos, sem nunca pormos os pés no chão. (E Lisboa, que é onde aproximadamente se situa o ponto de apoio, nem notaria a nossa atribulação.)
Quando vejo os turistas a passear pelo Porto, dá-me vontade de lhes pedir desculpa. Vieram enganados? Ninguém lhes disse que este mês fecham lojas, restaurantes, teatros, salas de música, cinemas e museus? E que só por um absurdo inexplicável não fecham também os hotéis? Não os preveniram das obras que transformaram passeios e ruas em labirintos poeirentos e traiçoeiros, delimitados por grades e fitas vermelhas?
Claro que há um Porto intemporal, feito de ruas, jardins e miradouros, que não faz férias em Agosto e talvez compense transtornos e desilusões. Escolhi duas vistas com a ponte da Arrábida para ilustrar essa cidade fiel: duas paisagens com palmeiras (palmeiras que vieram do sul mas se enraizaram a norte) e com marcas de uma ruralidade, embora decadente, que poucos associariam ao Porto.
Vista do jardim das aromáticas (Palácio de Cristal) com uma palmeira Washingtonia robusta
4 comentários :
....onde? está a palmeira no jardim das aromaticas?
Está num socalco logo abaixo. Pode-se entrar nesse terreno, mas não sei se é privado ou público (i.e., se pertence ao Palácio). Está claramente abandonado, mas o próprio jardim das aromáticas não tem muito melhor aspecto.
Nesse lugar, olhando o rural que ainda subsiste. Um jardim onde há alguns anos cheirei e saudei as aromáticas. Felizmente, temos o peso de pensar forte. E estes pensamentos entre Norte e Sul equilibram a tábua rasa das férias. Abraços, também para o viveiro na Aguda!
«Se o país fosse a tábua de um baloiço, nós aqui a norte, em número escasso para equilibrar as hostes sazonais a sul, ficaríamos o mês inteiro a espernear aflitos, sem nunca pormos os pés no chão. »
Acho esta imagem hilariante!
Parabéns pela prosa.
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