28/06/2008

Subsidio-dependência


Orobanche hederae

Foi por ela frequentar o cemitério londrino de Highgate, onde é estimada pela raridade, que tivemos notícia desta planta, a que podemos chamar erva-toira-das-heras. Quando lá fomos ainda não sabíamos disso, e por isso não a procurámos nos lugares certos, que são os muros calcários forrados de hera. Desprovida de clorofila e incapaz de fotossíntese, é das raízes da hera que a Orobanche hederae extrai todo o seu sustento. No sul da Europa ela não é assim tão rara, e bem que podíamos tê-la notado há mais tempo: a da foto ergue as suas hastes floridas, já murchas e tingidas de castanho-ferrugem, junto à Casa do Roseiral, nos jardins do Palácio de Cristal, no Porto. Quando a planta está ainda viçosa, as flores são de um branco leitoso e o caule apresenta um bonito tom dourado.

Esta planta é uma parasita, como são todas as suas 150 congéneres - mas só por tacanhez a podemos taxar de inútil. A hera, incapaz de se enfeitar a si própria, alimenta a erva-toira em troco da beleza que esta lhe acrescenta: é uma renda toda paga em flores.

Mas há as mentalidades práticas que, puxando da máquina de calcular, tudo reduzem a números. Viver à custa de outrem, sem produzir riqueza mensurável, é cair no pecado da subsidio-dependência, que tanto prejudica o PIB nacional. Subsídios a fundo perdido, artistas sem público, plantas sem clorofila: como podemos assim ter esperança de vencer a crise?

P.S. O valkirio mostrou há tempos uma Orobanche sanguinea, que parasita as leguminosas do género Lotus.

1 comentário :

Anónimo disse...

Nada se perde na natureza. Canta Almir Sater, grande músico brasileiro, "a natureza á isso, sem medo, nem dó, nem drama...". Parabés por este belo blogue.