13/01/2010

Lavanda-do-mar


Limonium vulgare Mill.

Em jeito de celebração da muita chuva que tem caído nesta transição de ano, iniciamos uma mini-série com aquelas plantas que se dão bem com a água, e por isso não temem a erosão costeira nem a subida do nível do mar. (Talvez devessem temer, mas algumas plantas, para seu mal, não são mais inteligentes do que o homem.) E a primeira é uma lavanda-do-mar, pertencente ao género Limonium, que já antes foi aqui pretexto para uma lição sobre maternidades alternativas. Impõe-se, contudo, uma ressalva a esse texto, que tem a ver com a contagem do número de espécies. Tal como sucedeu com outros géneros e famílias botânicas, uma operação de limpeza tem vindo a estabelecer sinonímias e a eliminar duplicações, com o resultado de o número de espécies de Limonium ter sido reduzido a metade, de 300 para 150.

O Limonium vulgare - herbácea perene, glabra, com base lenhosa, altura até 60 cm, florindo de Julho a Setembro - ocorre em quase toda a costa europeia atlântica e mediterrânica, e ainda no norte de África e nos Açores. É, no continente, uma planta exclusiva dos sapais (terrenos lodosos confinantes com o mar em estuários ou rias, periodicamente inundados por água salgada), aparecendo nuns tantos locais no centro e no sul. Nas ilhas açorianas, porém, onde não existem sapais, a planta escolhe como habitat as rochas e falésias costeiras, em altitudes inferiores a 80 metros - e por isso há algumas dúvidas de que se trate exactamente da mesma espécie.

A planta aí em cima foi fotografada em São Jacinto, na ria de Aveiro, num charco junto à EN 327. Apesar do seu epíteto científico, não parece ser excessivamente vulgar nas margens da ria, muito embora estas cumpram todos os requisitos para ela se sentir em casa. De facto, o charco que lhe serve de refúgio está do lado errado da estrada, e não é atingido pela subida das marés a menos que toda a faixa de rodagem fique submersa - coisa que, julgo eu, nunca acontece. Mas talvez existam condutas para escoar as águas da ria por debaixo da estrada, assegurando assim ao terreno um grau de salinidade que permite a sobrevivência da planta.

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