15/01/2010

Malmequer-dos-brejos

Caltha palustris L.
Não muito longe do charco onde mora a lavanda-do-mar, mas do outro lado da estrada, a descida da maré deixa a descoberto um espectáculo de morte. Centenas de jacintos-de-água, empurrados para a ria pelo caudal do Vouga, que nela desagua, espalham-se ao longo do estreito areal cinzento. A água salgada foi-lhes fatal, e por isso a viagem deles terminou aqui. Quem quiser aproveitá-los como fertilizante, ao que parece muito bom, só tem de trazer umas cestas e começar a enchê-las. Ou então pode deixá-los secar para servirem de combustível nas lareiras.

O ingrediente que tempera a água da ria, e também a do mar, é sal da vida para umas plantas e veneno fatal para outras — que preferem a chamada água doce (mas sem açucar). Em reconhecimento dessa distinção fundamental entre plantas hidrófilas, trazemos hoje aqui uma planta perene de floração temporã (início da Primavera) que vive em margens de rios, prados húmidos e terrenos alagadiços. Apesar do seu nome comum (malmequer-dos-brejos), a Caltha palustris não é uma asterácea, pertencendo em vez disso à família das ranunculáceas, que inclui várias espécies aquáticas frequentes nos nossos rios e lagos. As diferenças mais assinaláveis entre os ranúnuculos e o malmequer-dos-brejos são que este último tem o caule oco, é um pouco mais espigado (pode chegar aos 35 cm) e, ainda que as imagens pareçam desmenti-lo, as suas flores não têm pétalas: o que vemos em volta da coroa de estames são na verdade cinco sépalas. São as sépalas que protegem o botão floral antes da abertura; sépalas que, na maioria das plantas, têm cor verde e são semelhantes a folhas, embora haja numerosas excepções.

A Caltha palustris distribui-se por boa parte das regiões temperadas do hemisfério setentrional, incluindo Europa, Ásia e América do Norte. Está referenciada em Portugal, embora nunca a tenhamos encontrado por cá. A da foto é inglesa e vive em Londres, num dos muitos lagos que pontuam os 320 hectares de Hampstead Heath.

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