16/01/2010

Peónia do mar Egeu


Paeonia clusii F. C. Stern

Carolus Clusius (1526-1609) foi um naturalista e horticultor flamengo, autor de várias traduções de obras naturalistas contemporâneas, de um texto sobre flora espanhola e de dois compêndios sobre plantas exóticas e dezenas de espécies novas: Rariorum plantarum historia, em 1601, e Exoticorum libri decem de 1605. O seu contributo para o estudo de plantas alpinas valeu-lhe ser homenageado no nome científico de muitas delas e na criação do género Clusia e da família Clusiaceae.

Nomeado, a meio do século XVI, por Maximilian II - o imperador do Sacro Império Romano-Germânico que recebeu de presente, em 1551, do rei D. João III, o elefante Solimão, personagem do livro A viagem do elefante, de Saramago - como director de um jardim de plantas medicinais em Viena, mudou-se pouco tempo depois para Leiden (no sul da Holanda), onde foi professor e protagonista de um dos capítulos mais famosos da horticultura europeia.

Figura importante na criação de um dos primeiros jardins botânicos da Europa (o Hortus Academicus, em Leiden), deve o seu prestígio na história da botânica à observação atenta e paciente das plantas. A curiosidade, tão cara à ciência, levou-o a reparar numa alteração na coloração das tulipas, fenómeno que descreveu em 1576 e atribuiu então às condições ambientais, à natureza do solo e ao modo de preservar os bolbos, mas que se sabe hoje ser causado por um vírus. O fascínio pelas plantas afectadas residia na mudança de pigmentação das pétalas, que nasciam variegadas, com o bordo ou o centro pintalgados com cores distintas da cor normal (rosa, vermelho, púrpura, amarelo ou branco). Sendo produto de beleza apreciada, tornaram-se caras, até porque, em comparação com as tulipas vulgares, cresciam pouco, floresciam mais escassamente e produziam bolbos menos vigorosos. Foram tema favorito entre os mestres da pintura holandesa, que registaram na tela flores que desde então se extinguiram e que nem mesmo a manipulação genética de hoje consegue ressuscitar.

Nesta floração sensacional esteve a origem da febre de comércio de tulipas que, durante o século XVII, quase levou à bancarrota a economia holandesa: as tulipas passaram a ter valor de moeda e muitos holandeses, como numa corrida ao ouro, abandonaram a agricultura, o fabrico de queijos e outras ocupações para se dedicarem exclusivamente à produção destas flores bizarras. Ficou, como herança desses tempos, a indústria holandesa de bolbos e plantas de viveiro cuja imensa produção monopoliza hoje os nossos «centros de jardinagem».

O vírus e o modo como se dissemina foram identificados por Dorothy Cayley no John Innes Horticultural Institution nos anos 30 do século passado. Felizmente os horticultores conseguiram entretanto criar variedades de tulipas com este tipo de flores mas livres da doença.

2 comentários :

corubas disse...

Enhorabuena Maria, es la más bella flor de P. clusii que he visto en mi vida. ¿sería posible adquirir esta misma planta en algun viveiro?
Muito obrigado!!
...y mañana en Porto a disfrutar de las Camelias en Villar D'Allen.
Emilio Valladolid

Paulo Araújo disse...

Não deve ser fácil comprar esta peónia num viveiro - a da foto é dos Kew Gardens (Londres).

(Bom passeio a Villar d'Allen!)