27/08/2010

De égua para cavalo

Equisetum arvense L.
Sandwich Bay (Inglaterra) e lagoa de Mira (Portugal)


O rabo-de-cavalo (Equisetum arvense) surge como complemento natural do rabo-de-égua (Hippuris vulgaris). Mesmo que a analogia com o apêndice traseiro dos ditos animais seja meio forçada, não há dúvida de que as duas plantas são parecidas. Ambas parecem ser formadas por hastes verdes em que a folhagem se distribui ordenadamente por patamares. Mas as fotos mais acima suscitam estranheza, pois as hastes que aí se vêem não são verdes nem aparentam ter folhas. É legítimo perguntarmo-nos se as fotos de baixo são da mesma planta.

Vamos por partes. A semelhança entre o Equisetum e o Hippuris é puramente superficial. Como único sobrevivente da classe Equisetopsida, que foi abundante e variada no Paleozóico (entre 540 e 245 milhões de anos atrás), o género Equisetum, que inclui cerca de trinta espécies, é considerado um fóssil vivo. As plantas que o integram têm um método de reprodução primitivo, decalcado do dos fetos, que já antes aqui explicámos. Por contraste, o Hippuris é uma angiosperma — ou seja, uma planta moderna, com flor, coisa que só terá sido inventada há uns 140 milhões de anos.

E depois há a questão das folhas. Aquilo que no Equisetum nos parecem ser folhas são na verdade raminhos verdes, capazes de fotossíntese; e por vezes esses raminhos são eles próprios ramificados. As verdadeiras folhas são as escamas triangulares castanhas que vemos ao longo do caule.

Falta explicar o duplo aspecto que a planta assume nas fotos. O Equisetum arvense é peculiar por ter dois tipos de frondes (por analogia com os fetos, chamamos frondes às hastes da planta): as frondes verdes e ramificadas, que são estéreis, e as frondes de um tom entre o bege e o rosa, sem clorofila, que são rematadas por um cone onde se agrupam os esporos reprodutores. Essas frondes férteis surgem no dealbar da Primavera, e só mais tarde é que as outras despontam.

Sucede que o laborioso processo reprodutivo que tão bem funciona nos fetos parece claudicar nos rabos-de-cavalo. De facto, o Equisetum é dotado de extensos rizomas subterrâneos e, para se expandir, vale-se quase exclusivamente da reprodução vegetativa. Se for plantado num jardim pode facilmente converter-se em praga, mas tem grande dificuldade em expandir-se para locais novos. Em Portugal, onde o tipo de hábito ripícola que o favorece está em franca regressão, as populações espontâneas têm-se tornado cada vez mais raras.

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