Urze pestanuda
A Erica ciliaris comparece aqui hoje para completar a lição sobre urzes que gostam de água — embora esta urze, ao contrário da Erica erigena, seja capaz de suportar habitats comparativamente secos. Trata-se de uma planta versátil, que vive em solos ácidos sob influência atlântica, às vezes em areais, ocupando altitudes desde o nível do mar até aos 1800 metros. É comum em prados húmidos na companhia do tojo-molar (Ulex minor), mas não detém, entre as urzes, o exclusivo de compor o mosaico amarelo-rosa que costuma enfeitar os terrenos subturfosos. Tal tarefa é assumida a meias com a Erica tetralix, ou urze-dos-pântanos, que domina nas zonas montanas mas, tolhida pela especialização excessiva, tem uma distribuição mais restrita. Nos locais onde ambas as espécies ocorrem é comum elas hibridarem: o resultado do namoro é a Erica x watsonii, planta muito usada em jardinagem (aliás como as suas progenitoras) e com mérito certificado pela Royal Horticultural Society.
A Erica ciliaris, que deve o seu nome aos pêlos (ou pestanas) que pontuam a margem das folhas e das sépalas, distingue-se da E. tetralix pela «corcunda» das flores, que além do mais não têm as pétalas recurvadas na ponta a fazerem uma «gola». Outra diferença é que as flores da E. ciliaris se dispõem em espigas unilaterais, enquanto que as da E. tetralix se agrupam em cachos no topo das hastes. Tanto uma como outra são arbustos rasteiros, de não mais que 40 a 50 cm de altura. O filhote das duas (Erica x watsonii) é também uma planta miniatural, com flores iguais às da E. ciliaris e folhas em verticilos de quatro como as da E. tetralix.
Que as urzes, essas plantas vadias, tenham conquistado lugar de estimação nos jardins deve-se à abundância da floração e ao longo período em que ela decorre. A Erica ciliaris não é excepção, florescendo com maior ou menor intensidade de Maio a Outubro. Fornece um fundo estável de rosa intenso a que o artista-jardineiro vai juntando outras plantas e outras tonalidades como quem aplica judiciosas pinceladas. Mas isso, nem valeria a pena acrescentá-lo, só acontece nos países onde os jardins têm flores.
1 comentário :
Tão linda e aveludada...há flores silvestres que são lindas, devia haver mais nos nossos parques, onde quase só se vêem árvores e arbustos, flores não!
O J. Botanico felizmente tem muitas e bem bonitas.
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