O Minho tem o romanesco da árvore e o romance da família
O Minho lucra muito, visto assim de passagem, na imperial de uma diligência, lá muito no galarim do tejadilho, onde as moscas não se álem a ferretoar-nos a testa e a sevandijar-nos os beiços convulsos de lirismo.
Viu V. Ex.ª perfeitamente o Minho por fora: as verduras ondulando nas pradarias, os jorros de água espumando na espalda dos outeiros, os fragoedos às cavaleiras dos milharais, a amendoeira a florejar ao lado do pinheiral bravio, as ruínas do paço senhorial com os seus tapetes de ortigas e guadalmecins de musgo ao pé da chaminé escarlate e verde do negreiro a golfar rolos turbinosos de fumo indicativo de panelas grandes e galinhas gordas, lardeadas de chouriços. Simultaneamente, ouviu V. Ex.ª o som da buzina pastoril ressonando a sua longa toada nas gargantas da serra; viu os espantadiços rebanhos alcandorados nos espinhaços dos montes, e os rafeiros à ourela das estradas com os focinhos nas patas dianteiras, orelhas fitas e olhar arrogante. Reparou decerto na pachorra estóica do boi cevado, que parece estar contemplando em si mesmo a metempsicose em futuro cidadão de Londres mediante o processo do bife. Tudo isto, que é a forma objectiva do Minho romântico, viu V. Ex.ª. (...)
Mas o que D. António da Costa não teve tempo de ver e apalpar foi o miolo, a medula, as entranhas românticas do Minho; quero dizer – os costumes, o viver que por aqui palpita no povoado destes arvoredos onde assobia o melro e a filomela trila. (...)
É neste meio que eu me abalanço a esgaratujar novelas.
Camilo Castelo Branco, O Comendador (Novelas do Minho, 1875)
5 comentários :
Belo post.
Bom fds!
a) flordocardo
Foto invejável.....linda!
Vou fazer um pequeno post no meu blog sobre o Salgueiro, também evocado por Camilo nos Ecos Humorísticos. Obrigado pelas vossa pérolas!
Obrigada flordocardo, Virgínia, Quinta das Mogas.
[O Paulo está no hospital; logo que fique bom, o blogue recomeça.]
Passei por este espaço, recomendado por uma amiga, vivendo na Ilha da Madeira.
Como sou curioso e, amante da natureza, claro não podia passar sem dar uma espiadela.
Muito agradável e esclarecedor.
Quantas das vezes, tenho-me deparado com tantas dificuldades em identificar as plantas que me rodeiam e, não consigo quem tão bem mas identifique.
Ultimamente, tenho visto a nossa floresta de Pinheiro Bravo, e não só , devastada pela praga do Nemátodo do Pinheiro. Parece-me que as nossas autoridades florestais pouco se têm preocupado com a devassidão, deixando a cargo dos incêndios, toda a carga térmica proveniente da morte dos mesmos. Se não reagirmos a tempo, dentro de poucos anos, devemos estar á mercê dos eucaliptais e, das acácias.
Pela parte que me toca, dedicarei todo o meu esforço possível a denunciar tal desprezo. Pugnemos em nossos espaços os alertas e denúncias para que se possa defender os nossos pinheiros, quer os bravos quer os mansos, visto estes já estarem também ameaçados da referida praga.
Passarei desde este momento a sser um vosso seguidor.
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