Flores caídas
É sabido como o sistema de ensino tem vindo gradualmente a abandonar assuntos que, pela sua complexidade, podem causar lesões neuronais irreversíveis a quem por eles se aventure. A tendência nem sequer é recente. O escriba, nascido nos idos de sessenta, assume sem complexos ser já o produto de um ensino aligeirado. A prova? Nunca ninguém lhe tentou ensinar latim ou grego. Não é certo, porém, que algo lhe tivesse ficado vivo dessas línguas mortas se a elas tivesse sido exposto. Aprender é também esquecer, por falta de boa arrumação no sótão mental.
O interesse pela botânica vai suprindo, de modo fragmentário, essa lacuna formativa. Conhecer o significado de três ou quatro dezenas de epítetos científicos já proporciona um vocabulário latino muito rudimentar e embrionário. Não permitirá manter grande conversa com algum dignitário do império romano, mas dará para trocar umas dicas com o seu jardineiro. E ao latim juntam-se uns pozinhos ainda mais rarefeitos de grego antigo, como bem ilustra a planta de hoje. A palavra anthos, que aparece no nome genérico Piptanthus e numa série de outros termos botânicos (por exemplo micranthus), significa flor em grego clássico; o verbo pipto, que fornece o prefixo, significa cair. O termo Piptanthus diz-nos pois que as flores deste arbusto têm o hábito de cair. E — pergunta o perplexo leitor — o que há de singular nisso? Não acontece o mesmo com todas as flores? É que estas, afiançam os tratados de botânica, caem mais completamente do que as que caem simplesmente. Tombam não só a colora e os estames como também o cálice, de modo que as jovens vagens nascem quase sempre sem esse colarinho na base (visível, por exemplo, nesta foto de uma outra leguminosa).
Fotografado em Gordon Square (Bloomsbury, Londres) no início de Maio, este arbusto parecia ter sido acabado de plantar no seu canteiro definitivo: muito pequeno ainda, mas já com fartura de flores e promessa de mais para vir, e com a tirinha de identificação dando conta de que era parte de uma encomenda de três. Quando crescer poderá ultrapassar os dois metros de altura. Dependendo das condições ambientais, tanto pode ser de folhagem caduca como persistente; o mais provável é que nos jardins europeus de climas mais amenos (em Portugal nunca o vimos) ele não se dispa no Inverno.
O género Piptanthus inclui três únicas espécies, todas originárias da China e dos países vizinhos. O Piptanthus nepalensis é nativo da região que se estende dos Himalaias (Nepal) até ao sudoeste da China.
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