02/09/2011

Almofada de espinhos


Echinospartum ibericum Rivas Mart., Sánchez Mata & Sancho


O topo agreste das montanhas, de ar impoluto, comporta, tal como os areais junto ao mar, alguns sobressaltos de que as plantas se acautelam crescendo pouco ou adoptando um hábito rasteiro que as poupa à destruição por ventanias e nevões. Sem essa precaução, não poderíamos apreciar a forma almofadada deste arbusto (ou touceira) que, em altitudes mais baixas, chega aos 2 metros de altura e perde a redondez suave dos coxins.

Como os ramos estriados e decussados são espinhosos (outro modo de se acomodar ao ambiente adverso), a planta lembra um ouriço-cacheiro (o termo grego echinos significa ouriço), que é amarelo e branco em Junho e Julho; daí que os espanhóis a conheçam por erizo. Mais difícil é desvendar a origem da designação portuguesa, caldoneira, pois os dicionários não a esclarecem. Spartum refere-se às giestas usadas para fazer vassouras ou cordame, leguminosas como esta planta, que aliás já houve quem confundisse com a Genista lusitanica L.

Segundo a Flora Ibérica, na Península ocorrem cinco espécies do género Echinospartum, das quais apenas uma é espontânea em Portugal, havendo registos da sua presença nos cumes das serras da metade norte do país. É um endemismo ibérico de distribuição restrita ao centro e norte da Península Ibérica, entre os 700 e os 2200 metros, que resiste bem ao frio e à neve. Pelo que observámos, prefere lugares pedregosos secos e expostos, como ladeiras erodidas ou patamares com solo ácido pouco profundo. As folhas minúsculas (4-9 mm de comprimento) são opostas, lineares, compostas por três folíolos, com pecíolo curto, estípulas compridas (são os tais espinhos) e face inferior acetinada. As flores nascem em fascículos terminais; o cálice é campanulado e tem dois lóbulos sedosos e muito penugentos; na corola amarela, o dorso do estandarte e da quilha também se agasalham com uma camada rala de lã. A vagem é encimada por um espinho e contém poucas sementes, mas estas não perdem a viabilidade se transportadas por uma correnteza, colonizando assim facilmente o sopé das encostas.

É espécie protegida em (algumas regiões de) Espanha.

5 comentários :

Anónimo disse...

Olá Maria
De facto não deixa de espantar ver lá em cima (como vi na companhia do Alexandre/CISE ainda recentemente em Julho) 'um ovo estrelado' mesmo nas zonas mais áridas e sujeitas aos frios ventos;julgo ser este o que fotografei, não sabendo se o que também vi no Marão, quando vos acompanhei e à S.P. Botânica, é o mesmo.
Abraços
Carlos Silva

Dreamer Girl disse...

Amei as fotos. Um dia irei a Portugal, ver pessoalmente um pouco da beleza que vejo aqui através dessas maravilhosas fotos.
Um grande abraço do Brasil.

http://olhareseleituras.blogspot.com/

ZG disse...

Um nome muito apropriado para esta belíssima planta!!!

Maria Carvalho disse...

Olá Carlos. Sim, o do Marão é o mesmo.

[Na nossa última visita à serra da Estrela, em Agosto, havia por lá imensas borboletas, grandes e pequeninas, aos pares ou a acompanhar-nos no caminho... Fizeste falta, com aquele livrinho ilustrado.]

D. Girl: Obrigada.

ZG: Pois, a bela e a fera juntas...

Anónimo disse...

Olá.
De facto ainda hoje tenho muitas borboletas (e noturnas também) que fotografei lá na Estrela (o ano passado em Março)que ainda não identifiquei.
Os meus livritos ilustrados, para além do do Maravalhas sobre as diurnas, ajudam bastante mas são tantas e não específicas da Ibéria que me perco.
Ainda agora estive no P.B. Vinhais e em Sanabria e já tenho uma nova caixa para identificar. Não posso 'stressar' mas limitar-me a ter gozo em vê-las e fotografá-las.
Abraço.
Carlos Silva