Tramazeira
Sorbus aucuparia L.
Em tempos, lemos no Jornal de Horticultura Prática que Alfredo Allen propôs à Câmara do Porto que usasse laranjeiras na jardinagem pública e na ornamentação das ruas. Sugestão sábia pois estas são árvores de porte pequeno, que não tiram sombra a nenhuma janela nem destroem o piso por engrossarem as raízes; e, a juntar a essa postura recatada, ainda têm floração aromática e frutos comestíveis. A ideia não foi acolhida e ainda hoje os nossos paisagistas preferem confinar plátanos a caldeiras que competem com os peões em passeios de dois metros de largura, e são detorados regularmente para que não cresçam como é seu saudável costume.
Na serra da Estrela, porém, alguém levou ideia análoga adiante, plantando fiadas de tramazeiras ao longo das estradas, a somar às que crescem espontâneas pelas matas. São árvores de tamanho médio (raramente superam os 10 metros de altura), adaptadas à altitude e resistentes ao frio, de folha caduca e portanto não filtrando a parca luz no Inverno. As flores, que começam a aparecer no fim da Primavera, dispõem-se em ramalhetes chamativos e muito perfumados, e os frutos, de cor escarlate e sabor ácido, são consumidos em compotas, ou transformados em licor ou em vinagre (por serem ricos em vitamina C e taninos). A madeira é clara, levemente rosada, de textura fina mas dura, e por isso utilizada em fusos, rolamentos e pás de moinhos. Além destas virtudes, a sorveira-brava ainda atrai tordos e melros; esperemos que seja mais vezes a sorveira-dos-passarinhos do que a sorveira-dos-passarinheiros (do latim aucupor).
Ocorre na Ásia, Europa, norte de África, Islândia e Gronelândia. Na Península aparece sobretudo na metade norte, estando declarada como vulnerável ou ameaçada em algumas regiões espanholas. Em Portugal, e apenas no norte e centro, prefere bosques ou sítios expostos acima dos 1000 metros de altitude, colonizando mesmo lugares rochosos e alcantilados. A Nova Flora de Portugal regista-o nas serras do Gerês, Cabreira, Larouco, Montesinho, Roboredo e Estrela, mas a lista está incompleta.
Distingue-se da maioria das outras espécies de Sorbus no nosso território por ter folhas compostas e imparipinuladas (com 5 a 7 pares de folíolos de margem serrada e mais um na ponta); a folhagem pode confundir-se com a da S. domestica L., espécie da região mediterrânica, usada por vezes como ornamental, que dá frutos maiores, castanhos quando maduros.
8 comentários :
Ora cá está, fiquei a saber como se chama esta árvore.
Há quanto tempo andava para fazer esta averiguação. Só me lembrava quando passava pela "Tramazeira"!
Obrigado, Maria Carvalho, pela referência ao meu modesto sítio. Saudações.
Existem muitas árvores destas de nascimento espontaneo na região de Montalegre. Chamam-lhes, nas terras de Barroso, LAMAGUEIRAS
José Teixeira Gomes - Porto
Que bonita árvore. Boa ideia essa de a plantarem ao longo das estradas.
Plantar laranjeiras nas cidades tem resultados fantásticos: fez-se em Sevilha, e o perfume na Primavera é delicioso.
Beleza
e sensatez, do lugar e do que é belo e possível - o que "aqui" não existe (a sensatez do Porto perdeu-se nas pedras...)
Abçs
Já tive uma Tramazeira (plantada em 1999). Começou a ficar com ramos secos e em 2 anos secou :(
Em Montalegre existem bastantes. Sempre que lá vou, lembro-me da minha.
Tenho que plantar outra!
Paulo Coimbra
http://enifpegasus.blogspot.com/
eu preciso muito dos ramos de tramazeira. se alguem conseque arranjar ou tem alguma informação podem mandar no meu e-mail. marina_olkhovska@mail.ru agradeço
Sou apaixonada por árvores. Vou bordar uma tramazeira em ponto cruz, mas antes queria conhecer a árvore.
Fiquei encantada, é belíssima. Pena eu não ter condições de ver uma ao vivo e em cores. Obrigada pela sua pesquisa, foi muito enriquecedora.
Vânia Garcia Silveira
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