15/08/2012

Delgada e sem espinhos

Crupina vulgaris Pers. ex Cass.


Ao contrário do que, infelizmente, vai sendo adoptado noutras paragens, é ainda tradição nossa receber bem estrangeiros, turistas ou não, apoiando a sua integração no país quando o desejam. Contudo, são muitos os que receiam que a mesma benevolência com as plantas exóticas se torne um perigo para a flora nacional. Mais ou menos os mesmos reagem depois sem lucidez ao problema oposto, o criado pelas nossas plantas que se tornam invasoras indomáveis em habitats onde são introduzidas, como a mãe que defende irracionalmente a sua criança mal-comportada. E, triste ironia, por cá vão-se tornando raras.

A lista de plantas acusadas de serem daninhas para a agricultura fora da Europa dá a esta asterácea algum destaque por se adaptar facilmente a ambientes e climas diversos (embora prefira locais secos e pedregosos), as suas folhas ásperas, armadas de pêlos rígidos, não agradarem ao gado (que, contude, a consome na falta de outro alimento) e não se conhecerem agentes biológicos que controlem a sua disseminação. Em países onde há regras restritivas no uso de herbicidas, só uma estratégia concertada de pastoreio, manutenção dos campos e erradicação das plantas antes da produção das sementes (o único meio de ela se espalhar) permite deter a propagação e prevenir os estragos desta erva oportunista que, emigrante ansiosa e competitiva, consegue transformar um campo de milho num extenso crupinal. Entre nós, pelo contrário, o controle químico é a estratégia de que se abusa para eliminar as ervas indesejadas, não poupando naturalmente as outras. A crupina-comum, planta anual, não está a resistir aos herbicidas que contaminam os nosso prados, clareiras de matos e bermas de caminhos, e já foi mais fácil de encontrar.

A primeira vez que a vimos, junto a um campo de escuteiros na serra de Aire, parecia uma herbácea rasteira orgulhosa da sua haste de uma só flor. Engano nosso. Meses depois, numa rocha ultrabásica de Macedo de Cavaleiros, ela parecia ter tomado uma dose saudável de vitaminas e atingido uns respeitáveis 40 cm de altura. Não toda, porém: apenas a haste floral tinha crescido, afastando-se da roseta basal de folhas verde-pálidas, mas enfeitando-se com folhas menores e mais recortadas. Em geral, só a flor central de cada inflorescência não é estéril, produzindo no fim do Verão um fruto duro, coberto por uma penugem lustrosa, com forma de dedal e uns 6 milímetros de comprimento, encimado por picos com que se prende aos dispersores. Cada planta pode produzir uma centena de aquénios que se espalham com a ajuda do vento, dos animais ou dos cursos de água, germinam no Outono seguinte e se mantêm viáveis durante uns três anos.

O género Crupina contém duas espécies, a Crupina vulgaris (do sul da Europa e região mediterrânica) e a mediterrânica Crupina crupinastrum (Moris) Vis., ambas exibindo no fim da Primavera ou Verão esguios capítulos de flores cor-de-rosa ou magenta. As populações das duas espécies são abundantes em Espanha, mas só da primeira há notícia em Portugal.

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