Colheres de sésamo
Porque era ainda Abril quando a vimos no topo das falésias de Cascais, as fotos não mostram as sementes desta planta. São redondas e comprimidas lateralmente como as do gergelim (Sesamum indicum L.), e sugeriram a Lineu o nome científico do género. As folhas caulinares coriáceas e em forma de colher (espatuladas) são a marca distintiva da espécie das fotos, que na Península Ibérica só ocorre, ao que se sabe, na costa portuguesa a sul do cabo da Roca (mas também existe na Córsega e na Sardenha). É perene e tem hábito prostrado, talvez para se resguardar da parcela generosa de vento que mora na praia do Abano.
Há mais duas espécies de Sesamoides em Portugal continental (Sesamoides purpurascens (L.) G. López, frequente em quase todo o país; e Sesamoides suffruticosa (Lange) Kuntze, mais rara), de ecologia um pouco diferente. As três assemelham-se nas inflorescências e têm em comum flores que exigem um laborioso exercício de identificação. Antes de o resolver connosco, aproveite, caro leitor, o excepcional detalhe fotográfico com que a Flora-on documenta esta herbácea.
A inflorescência é uma espiga com as flores posicionadas como se fossem discos patentes. Mas, e esse é o primeiro detalhe surpreendente, as flores não são simétricas. Têm um cálice de brácteas, cada uma delas de formato aproximadamente triangular, que protege um anel de pétalas brancas tão divididas que, sendo apenas cinco, parecem muitas mais: as duas superiores (que apontam para o topo da espiga) são laciniadas; as duas laterais também apresentam fendas, mas são menores; e finalmente há uma pétala inferior, quase solitária, que é inteira. Atentemos agora no anel alaranjado de 10 a 14 estruturas arredondadas, como duplos feijões: parece até que a flor já frutificou. De facto, são os estames, a componente masculina da flor, guardiã do pólen. As 5 a 7 bolinhas laranja-esverdeadas no centro do arranjo são os carpelos, que compõem a parte feminina da flor.
O fruto condiz em estranheza com a flor.