Cravos de burro
Richard Thomas Lowe (1802-1874) descreveu esta espécie de Matthiola do arquipélago da Madeira em 1838, na revista Transaction of the Cambridge Philosophical Society. Tê-la-á avistado apenas em escarpas rochosas do litoral das ilhas da Madeira e Porto Santo, mas sabe-se hoje que também ocorre nas Desertas, e nós vimo-la nos picos mais altos do Porto Santo. Esta adaptação a uma dupla ecologia soa peculiar a quem, como nós, só conhecia a Matthiola sinuata, planta bienal ou perene, de folhas onduladas com um veludo branco-amarelado e espesso a protegê-las, que está agora em flor em areais junto ao mar (mas não serão muitos os veraneantes a vê-la porque é rara por cá) ou a Matthiola fruticulosa, herbácea perene de folhas esguias, igualmente revestidas por pêlos glandulosos amarelados, que prefere clareiras de matos, prados secos e solos calcários.
Um pouco menos peludo e de lanugem acinzentada, este goivo da praia e da serra (goivo-da-rocha ou cravo-de-burro, como o povo lhe chama) é um endemismo do arquipélago da Madeira e tem folhas lanceoladas, agudas e de margens geralmente inteiras, com as basais em roseta. É bienal ou perene, com um caule lenhoso e folhudo na base, o que se ajusta ao perfil de plantas que colonizam habitats desconhecidos e ventosos, e vão reagindo com cautela às novidades. Tal como as parentes continentais, as flores têm pétalas de cor violácea ou púrpura, e reúnem-se numa inflorescência vistosa de haste alta. Os frutos são silíquas cilíndricas, como os da M. sinuata.
Antes do ano 2000, havia goivos que perfumavam parte da beira-mar ao longo da avenida de Montevideu, plantados na base dos metrosíderos (estes estão agora em flor, sabia?). Eram talvez da espécie M. incana, muito usada em jardinagem e ocasionalmente naturalizada no litoral. Foram substituídos, durante uma famosa requalificação, por conchas, goivos de burro que também já desapareceram.