28/06/2016

Cravos de burro


Matthiola maderensis Lowe


Richard Thomas Lowe (1802-1874) descreveu esta espécie de Matthiola do arquipélago da Madeira em 1838, na revista Transaction of the Cambridge Philosophical Society. Tê-la-á avistado apenas em escarpas rochosas do litoral das ilhas da Madeira e Porto Santo, mas sabe-se hoje que também ocorre nas Desertas, e nós vimo-la nos picos mais altos do Porto Santo. Esta adaptação a uma dupla ecologia soa peculiar a quem, como nós, só conhecia a Matthiola sinuata, planta bienal ou perene, de folhas onduladas com um veludo branco-amarelado e espesso a protegê-las, que está agora em flor em areais junto ao mar (mas não serão muitos os veraneantes a vê-la porque é rara por cá) ou a Matthiola fruticulosa, herbácea perene de folhas esguias, igualmente revestidas por pêlos glandulosos amarelados, que prefere clareiras de matos, prados secos e solos calcários.

Um pouco menos peludo e de lanugem acinzentada, este goivo da praia e da serra (goivo-da-rocha ou cravo-de-burro, como o povo lhe chama) é um endemismo do arquipélago da Madeira e tem folhas lanceoladas, agudas e de margens geralmente inteiras, com as basais em roseta. É bienal ou perene, com um caule lenhoso e folhudo na base, o que se ajusta ao perfil de plantas que colonizam habitats desconhecidos e ventosos, e vão reagindo com cautela às novidades. Tal como as parentes continentais, as flores têm pétalas de cor violácea ou púrpura, e reúnem-se numa inflorescência vistosa de haste alta. Os frutos são silíquas cilíndricas, como os da M. sinuata.

Antes do ano 2000, havia goivos que perfumavam parte da beira-mar ao longo da avenida de Montevideu, plantados na base dos metrosíderos (estes estão agora em flor, sabia?). Eram talvez da espécie M. incana, muito usada em jardinagem e ocasionalmente naturalizada no litoral. Foram substituídos, durante uma famosa requalificação, por conchas, goivos de burro que também já desapareceram.

24/06/2016

Iscas com todas



Phagnalon lowei DC. [= P. hansenii Qaiser & Lack; P. bennettii Lowe]



Iscas é o nome que no Porto Santo se dá a este arbusto. Podem ser o prato principal, como na culinária dos pobres, mas são muito mais comuns como acompanhamento, ou deveríamos talvez dizer como entradas. Distribuídas desde o litoral até aos picos mais altos, acompanham todas as outras plantas da ilha, e servem de entrada a quem se quiser ir familiarizando com a flora do arquipélago. A sua preferência por lugares secos e pedregosos faz de toda a ilha um potencial habitat, e estas iscas floridas não se fizeram rogadas em aceitar o convite. Na Madeira, onde também ocorrem, as condições não lhes são tão favoráveis, e por isso se encontram restritas a algumas escarpas do sul da ilha e à Ponta de São Lourenço.

O hábito mais compacto e erecto do Phagnalon lowei permite distingui-lo do P. saxatile, o rastejante e desgrenhado alecrim-dos-muros que encontramos de norte a sul do território continental. Há também diferenças nas brácteas involucrais (as do P. saxatile são pontiagudas, enquanto que as do P. lowei são rombudas na ponta, com largas margens escariosas) e no notório engrossamento dos pedúnculos do P. lowei logo abaixo dos capítulos florais. Tudo ponderado, o veredicto, tanto das checklists mais recentes como de Press & Short no livro Flora of Madeira, é que este Phagnalon é endémico do arquipélago.

A história, porém, é mais complicada do que isso, como aliás indicia a profusão de sinónimos na legenda das fotos. Se consultarmos o portal The Plant List, vemos que cada uma das três designações desta espécie é tida como sinónimo de Phagnalon saxatile. Parece haver quem considere que as indubitáveis diferenças com o P. saxatile caem dentro da variabilidade desta espécie, não sendo por isso definidoras de uma espécie autónoma; mas que nem o sejam de uma subespécie já parece má vontade.

Na verdade o problema já vem de Lowe, que no seu A Manual Flora of Madeira (1868) descreve três espécies de Phagnalon (ou, como ele prefere, Gnaphalon) no território: P. saxatile, P. rupestre e P. bennettii. As descrições das duas últimas condizem melhor com a planta que hoje conhecemos no Porto Santo, mas Lowe só assinala P. rupestre nalguns picos da ilha e restringe P. bennettii, que considera muito rara, a um único local da Madeira. Quanto ao P. saxatile, o mesmo Lowe informa que ele é comum no Porto Santo a todas as altitudes. Press & Short, em 1994, diminuem a lista de espécies de Phagnalon no arquipélago para duas, omitindo o P. rupestre e pondo em dúvida a presença do P. saxatile no Porto Santo; mas acrescentam a estranha informação de que o P. bennettii é raro nesta ilha. Finalmente, em 2000, Roberto Jardim e David Francisco, no livro Flora Endémica da Madeira, esclarecem, para nossa tranquilidade, que o P. bennettii (a que chamam P. hansenii) é afinal muito comum no Porto Santo.

Como desfazer este imbróglio? Devemos aceitar que a planta descrita por Lowe como P. bennettii, colhida por ele na Madeira, é a mesma que existe abundantemente no Porto Santo, apesar de ele próprio a não ter reconhecido aquando das suas expedições botânicas à ilha, confundindo-a com o banal P. saxatile? Ou Lowe descreveu de facto uma espécie raríssima, exclusiva da Madeira, quiçá entretanto desaparecida? Quando estas perguntas tiverem uma resposta satisfatória, talvez as iscas do Porto Santo, que têm mantido o nome popular no meio de todas as confusões e hesitações taxonómicas, sejam obrigadas a abdicar de alguns dos nomes científicos que hoje ostentam.

Ilhéu de Cima e Pico do Maçarico vistos do Pico do Concelho

21/06/2016

Pescando em seco



Euphorbia piscatoria Aiton



Quase todas as plantas do género Euphorbia que são espontâneas em Portugal continental e no arquipélago dos Açores são herbáceas vivazes. Uma excepção é a Euphorbia pedroi, um endemismo arbustivo das escarpas e fissuras de rocha do Cabo Espichel que deixa cair as folhas no Verão. Nas ilhas da Madeira, Porto Santo e Desertas, em penhascos do litoral e até em altitudes mais elevadas no interior da Madeira e nos picos do Porto Santo, há uma outra espécie arbustiva que também se despe de folhagem nos meses mais quentes do ano, que é um endemismo destas ilhas e que colocámos hoje na montra.

A Euphorbia piscatoria é um arbusto suculento e glabro, muito ramificado, de copa arredondada e folhas linear-lanceoladas, com ápice agudo e margens amareladas, que se aglomeram nas extremidades dos ramos. Floresce entre Janeiro e Agosto e pode atingir quase dois metros de altura. Não sabemos se, além da proximidade morfológica e de preferência de habitat entre a Euphorbia piscatoria e a Euphorbia pedroi, ou entre aquela e as eufórbias arbustivas das ilhas Canárias e de Marrocos, há indícios de uma origem comum, africana ou mediterrânica, para estas grandes eufórbias das falésias litorais do arquipélago da Madeira e do continente português.

Bastante frequente no Porto Santo, recebeu o epíteto piscatoria em alusão ao uso do látex destas plantas para atordoar os peixes em covas de rocha à beira-mar, enchidas de água e peixe pela maré alta e esvaziadas da água à chegada da maré baixa. Desse modo, a pesca seria facilitada, embora não saibamos se isso afectaria a qualidade do pescado. Esta prática foi entretanto abandonada, o que talvez justifique a dificuldade em encontrar peixe fresco nos restaurantes do Porto Santo. A planta é conhecida em língua inglesa como fish-stunning spurge; em português chamam-lhe figeira-do-inferno.

A descrição da espécie é do botânico escocês William Aiton (1731-1793), que a menciona, em 1789, no catálogo (Hortus Kewensis) das plantas cultivadas nos Kew Gardens, de que foi director por trinta anos. Não consta que tenha estado na Madeira, mas terá decerto recebido muitas amostras botânicas dos inúmeros naturalistas britânicos que visitaram o arquipélago ou nele viveram ao longo do século dezoito.


Pico do Castelo, Porto Santo

17/06/2016

A importância de ser endémica


Aichryson villosum (Aiton) Webb & Berthel.


Quando se fala da flora das ilhas, são as espécies endémicas que atraem as maiores atenções e concentram os mais desvelados esforços de conservação. Daí também terem sido os endemismos do Porto Santo que primeiro quisemos aqui mostrar. Esse foco prioritário nos endemismos não deve porém fazer-nos esquecer o resto. Em primeiro lugar, porque as plantas endémicas não sobrevivem sozinhas: os habitats que ocupam acolhem muitas outras plantas nativas, e é impossível proteger umas ignorando outras. Preservar o equilíbrio ecológico que sustenta as plantas endémicas obriga-nos a cuidar das plantas indígenas como um todo, sejam elas ou não endémicas. Se uma planta indígena desaparece de uma ilha, é a biodiversidade local que fica empobrecida. E as alterações de habitat que conduzem a tal extinção (ou resultam dela) não deixarão, a prazo, de ameaçar igualmente as espécies endémicas.

Outra razão forte para não desdenhar das plantas nativas que não são tidas como endémicas é que esse estatuto pode sofrer alteração. O isolamento próprio da condição insular (passe a redundância) faz com que as populações da mesma espécie instaladas em diferentes ilhas acabem por se diferenciar — e chega um momento em que as diferenças são tantas que não é razoável declarar que são ainda da mesma espécie. Essa evolução não se passa à nossa escala temporal, podendo levar centenas de milhares de anos. Assim, as mudanças de estatuto (de nativa para endémica) devem-se, não a uma evolução súbita das populações estudadas, mas a comparações mais atentas, à maior facilidade em realizar estudos genéticos, e (por vezes) a divergências de opinião entre peritos.

Outra questão, esta quase de índole semântica, é a escala a que se usa o termo "endémica". Há os endemismos de uma ilha só, os que surgem em várias ilhas do mesmo arquipélago, e ainda os que se estendem por dois ou mais arquipélagos. Por vezes os arquipélagos formam uma unidade geográfica indiscutível, outras vezes nem por isso. Pode argumentar-se que os Açores não são um mas três arquipélagos, e que foram as vicissitudes da história humana que criaram uma unidade algo artificial.

Mas não há convenções geo-políticas que possam desvalorizar o facto de uma planta ser exlusiva de uma pequena ilha: há-de ser sempre só dessa ilha, e só do arquipélago a que a ilha pertence, seja qual for o nome que se lhe dê. Em 2015, a ilha de Santa Maria viu reconhecido um novo endemismo, Aichryson santamariensis, antes chamado Aichryson villosum. No artigo em que fundamentam a promoção, os autores (Mónica Moura, Mark A. Carine, Miguel Menezes de Sequeira) assinalam, além das diferenças genéticas, importantes diferenças morfológicas entre a "nova" espécie e a espécie madeirense com que antes tinha sido confundida (e que, fotografada em Porto Santo, aparece nas imagens aí em cima). A mais notória é que a versão madeirense é muito mais peluda (vilosa, justamente) e com pêlos muito mais compridos do que a versão de Santa Maria. Distinguem-se também na forma das folhas (as do A. santamariensis têm o ápice ligeiramente crenado) e dos cálices. Nem sempre óbvia é a diferença de tamanho, mas o Aichryson villosum é tendencialmente maior do que o Aichryson santamariensis, com inflorescências mais abundantes.

De resto, ambas estas crassuláceas são plantas anuais de lugares pedregosos, vivendo tanto a pleno sol como em lugares sombrios. Com a separação, também a Madeira ganhou um "novo" endemismo, o terceiro do género Aichryson no arquipélago, e o único que ocorre na ilha do Porto Santo.



Porto Santo: campo de golfe e parque eólico vistos do Pico de Ana Ferreira

10/06/2016

Avenca redonda

Adiantum reniforme L.

Os tufos de folhas arredondadas a espreitar nas fendas das rochas pareciam, à distância, pertencer a alguma violeta silvestre como as que há no continente. Mas no Porto Santo essas plantas não existem (nem sequer a Viola riviniana, que é comum no continente e na Madeira), e em qualquer caso as violetas costumam crescer no chão e não em taludes rochosos. A culpa de haver apenas folhas e não flores não era da época tardia. Tratava-se de um feto, uma planta que, como é sabido, foi inventada antes de as flores existirem. A estrutura reprodutiva da planta dispensa os bons ofícios dos insectos e demais intermediários, e resume-se aos esporângios que, agrupados em soros, sublinham a traço grosso, pelo avesso, o contorno das folhas.

A disposição dos soros, resguardados ou não por uma membrana protectora (indúsio), é um dado crucial para a correcta identificação dos fetos. O facto de este feto do Porto Santo ter folhas inteiras pode sugerir um parentesco com outros que tenham igual peculiaridade, como o Aspenium hemionitis ou o Asplenium scolopendrium. Contudo, os soros marginais (3.ª foto) mostram que não se trata de um Asplenium, género em que os soros são lineares e ocupam quase todo o verso da fronde (veja-se o Asplenium hemionitis). A estrutura dos soros é em tudo semelhante à da avenca comum (Adiantum capillus-veneris), e daí Lineu ter concluido que estes fetos superficialmente tão diferentes eram de facto primos, arrumando-os por isso no mesmo género Adiantum. Ganhámos assim uma avenca de folhas redondas e grandes (uns 5 cm de diâmetro, com um pecíolo fino e longo que pode atingir os 30 cm), em total contraste com o rendilhado da avenca convencional.

É tradicional considerar os fetos como plantas primitivas, com origem em épocas (o "tempo dos dinossauros") em que a paisagem vegetal do planeta era inimaginavelmente diferente da que é hoje. No entanto, ter uma linhagem antiquíssima não é o mesmo que ser muito antigo. Os fetos e aparentados deixaram de dominar a Terra, mas os que sobreviveram não pararam de evoluir, e as espécies hoje existentes poderão, em grande parte, não ser mais antigas do que a generalidade das plantas com flor. Como poderia ser de outra maneira quando um arquipélago jovem como os Açores tem nada menos que cinco fetos endémicos?

Há fortes indícios, contudo, de que a avenca-redonda (ou feto-redondo, como alguns lhe chamam) é uma relíquia genuína. O seu habitat de eleição são as rochas sombrias e húmidas como as do topo do Pico Branco, único local do Porto Santo onde está assinalada. Na Madeira é bem mais comum, e nas Canárias só está ausente da ilha de Forteventura. O que faz soar o alerta é a sua distribuição global: não existe na Europa, nem no Mediterrâneo, nem na África ocidental. Reaparece, em várias versões (entre elas uma hirsuta, Adiantum reniforme var. asarifolium), em alguns pontos da costa leste do continente africano, estendendo-se a Madagáscar e às ilhas Maurícia e Reunião. Novo salto de sete ou oito mil quilómetros, e volta a surgir (agora como Adiantum reniforme var. sinensis) no centro da China, entre as províncias de Sichuan e Hubei. Tamanhas lacunas fazem supor que, antes da última era glaciar, o Adiantum reniforme gozava de uma distribuição quase planetária. Ainda que o isolamento das populações possa ter levado ao aparecimento de formas regionais distintas, este feto é um improvável sobrevivente de outras eras e merece inteiramente o título de fóssil vivo.

06/06/2016

Solidão em flor


Scrophularia lowei Dalgaard


Mesmo a um olhar pouco treinado não escapa o parentesco da planta das fotos, quando em floração, com as do género Scrophularia, de que a Península Ibérica é uma região bem provida, contando com o maior número de espécies na Europa, metade das quais são endémicas. As flores são pequenas mas proeminentes e muito procuradas por abelhas por serem generosas em néctar. Nota-se um cálice robusto e uma corola bilabiada de tom violeta, púrpura ou vermelho alaranjado, parecendo que o lábio superior bífido forma as orelhas do rato Mickey.

Este endemismo do arquipélago da Madeira é uma planta pequena (de meio a um metro de altura) com talos glandulosos e folhas ovadas, glabras, de margens duplamente serradas. As flores diminutas nascem em cimeiras axilares (como é frequente no género) bem seguras por cálices de pé longo. A corola é tubular e bilabiada, mas distingue-se bem das outras do arquipélago e das peninsulares pela conjunção de dois pormenores: as flores são brancas com manchas púrpura; as anteras são vermelho-púrpura.

Esta herbácea é anual e ocorre em locais rochosos de baixa altitude na ilha da Madeira, em alguns picos e ilhéus do Porto Santo e nas Desertas. Mas parece ser muito rara no Porto Santo: nas nossas andanças, só vimos este exemplar, numa encosta do Pico do Castelo. Talvez lhe falte um polinizador eficiente ou tenha uma capacidade reduzida de adaptação aos vários estragos que se vão fazendo no seu habitat. Há indícios de que, na companhia de outros endemismos, se estará a refugiar nos ilhéus de Porto Santo, o que pode ser uma boa notícia. O Porto Santo tem seis ilhéus (da Cal, o maior e com antigas minas de calcário; das Cenouras; de Cima, onde a S. lowei é abundante; de Fora; de Ferro; da Fonte da Areia), todos desabitados e protegidos pelo Plano Director Municipal do Porto Santo, além de estarem de algum modo salvaguardados pela inscrição na Rede Natura 2000 e no Parque Natural da Madeira. Tivesse igualmente o continente umas tantas ilhas onde guardar em segurança amostras de toda a sua flora...

03/06/2016

Flora endémica do Porto Santo: Lotus loweanus



Lotus loweanus Webb & Berthel.



Todas as fontes consultadas — e que foram, por ordem cronológica inversa, Flora Endémica da Madeira de Roberto Jardim & David Francisco (2000), Flora of Madeira de J. R. Press & M. J. Short (1994), e A Manual Flora of Madeira de Richard Thomas Lowe (1868) — informam que este endemismo porto-santense é comum, um pouco por toda a ilha, em dunas, falésias costeiras e encostas pedregosas até uns 150 m de altitude. Os 130 anos que medeiam entre o mais antigo e o mais recente desses livros pareciam ser garantia de que o Lotus loweanus ultrapassara quase incólume o mais destrutivo dos séculos. No entanto, só o encontrámos na última manhã da nossa estadia, e para isso tivemos que percorrer, no sudoeste da ilha, os 2 Km de areal entre a Ponta da Calheta e o Cabeço da Ponta. Talvez a dificuldade se deva à nossa inépcia, mas há a possibilidade de o Lotus loweanus estar a ser vítima do surto de construções turísticas ao longo da praia e, sem que ninguém dê oficialmente por isso, em lugar de ser comum se vá tornando raro e ameaçado. E não é tranquilizador que nesta página se diga que ele apenas existe nos ilhéus do Porto Santo: se esperarmos uns anos e nada se fizer, talvez essa informação falsa se converta em verdadeira.

Há uma linhagem de Lotus macaronésios em que este do Porto Santo (popularmente chamado de cabeleira-de-coquinho) claramente se insere, e de que também faz parte o açoriano Lotus azoricus. Três outros representantes da mesma estirpe, que a seu tempo aqui mostraremos, vivem na ilha, seja na costa (caso de um deles) ou nos picos (os outros dois). São plantas perenes, acetinadas, rasteiras, formando vastos tapetes, com flores geralmente solitárias e de cor escura. O Lotus loweanus singulariza-se por ter uma base lenhosa bem desenvolvida, com as plantas mais idosas a assemelharem-se a arbustos liliputianos (comprove na 1.ª foto). As folhas, como é típico nos Lotus, são formadas por cinco folíolos que, neste caso, são estreitos e têm um vinco longitudinal bem evidente. As flores, não sendo embora das mais pequenas do género (têm de 1 a 1,5 cm de diâmetro), são pouco conspícuas por causa da sua cor escura e por estarem quase sufocadas pelo cálice. Apesar da modéstia da floração, que apenas decorre entre Março e Junho, esta cabeleira-do-coquinho, como testemunham as fotos acima, é muito decorativa graças à sua arquitectura geral e à folhagem glauca com reflexos prateados.


Ponta da Calheta, ilha do Porto Santo