Globos de ouro
As sépalas, quando existem, são a parte mais externa da flor, que a agasalha, protege dos predadores e até pode servir de pires para que o pólen não se desperdice. São componentes estéreis, que nascem antes dos outros orgãos da flor, num arranjo em que, sobrepondo-se, cobrem completamente o botão que se está a gerar. Como as pétalas, são folhas modificadas, e não são raras as que contêm espinhos, penugem irritante ou glândulas com produtos tóxicos para desencorajar quem queira estragar a flor em formação. Unidas, criam um cálice que torna mais robusta e estável a ponta da haste onde a flor aberta se apoia. Depois de as flores serem fecundadas, as sépalas costumam secar e cair; todavia, se necessário, endurecem e mantêm-se vigilantes, agora em defesa do fruto e das sementes. São em geral verdes como as folhas, mas tal como acontece com a nossa roupa, podem ficar maiores do que o resto da flor, ou até serem a parte da flor que tem a cor mais vistosa e, por isso, recebe a função adicional de atrair os polinizadores. É o que se passa, por exemplo, com as tulipas, os malmequeres-dos-brejos e as flores globosas, a lembrar tangerinas, que hoje vos mostramos.
Têm cerca de 5 cm de diâmetro e são solitárias, nascendo entre Maio e Julho no topo de um talo erecto que pode chegar aos 70 cm. Na base, as folhas redondas mas muito divididas ajudam a identificar a família (Ranunculaceae) desta planta. Cada flor exibe uma dezena de sépalas amarelas que se curvam para esconder um feixe de outras tantas pétalas fininhas, sem graça mas com nectários apetitosos, e numerosos estames. Há decerto um momento em que estão ligeiramente abertas, mas não tivemos sorte em presenciá-lo; contudo, pode ver mais pormenores aqui, ou nesta ilustração da espécie T. chinensis. O nome do género, Trollius, que Lineu adoptou quando o descreveu em 1753, deriva da designação suíça trollblume (flor redonda) para esta planta.
Trata-se de uma herbácea perene de prados permanentemente húmidos e bosques frescos, margens de riachos e zonas turfosas de montanha. É venenosa para o gado que, meticulosamente, a ignora. Há populações magníficas de T. europaeus na Europa mais fria, mas na Pensínsula Ibérica só há registos dela na metade norte. Estes exemplares são da orla de um riacho em Somiedo, algures a caminho da reserva dos ursos pardos.