23/02/2019

Cinerárias & pés de cavalo


Pericallis tussilaginis (L`Her.) D. Don


No tempo em que nesses locais eram permitidas flores, os jardins públicos do Porto costumavam ser enfeitados, em certas épocas do ano, por uns malmequeres muito garridos e floribundos, com cores quentes variando entre o rosa, o branco, o roxo e o vermelho, aqui e ali com apontamentos azuis. Tratava-se da cinerária-dos-floristas — que, como muitas outras plantas efémeras, era produzida nos viveiros municipais e, transplantada para os canteiros, vivia umas breves semanas de glória até ser substituída quando perdesse o viço.

Existe um género botânico com o nome Cineraria, exclusivo da metade sul do continente africano, mas a cinerária-dos-floristas, com origem nas ilhas Canárias, integra-se no género Pericallis, antes incluído no género Senecio. Trata-se de um híbrido hortícola, criado em Inglaterra no último quartel do século XVIII, entre duas espécies tenerifenhas: Pericallis cruenta e Pericallis lanata. O seu nome científico correcto é Pericallis X hybrida e não, como muitas vezes aparece, Senecio cruentus, nome que só é legítimo aplicar a uma das suas progenitoras.

Existem Pericallis em três arquipélagos da Macaronésia: uma espécie nos Açores, uma na ilha da Madeira e outra no Porto Santo, catorze nas Canárias. Há certamente fortes razões de queixa por partilha tão desigual. No entanto, a açoriana Pericallis malvifolia é das mais vistosas do género e, sem ter beneficiado de apuramento hortícola, suplanta em variedade de cores qualquer uma das espécies canarinas. Já em envergadura a vantagem não é tão clara, pois nas Canárias há Pericallis de todos os tamanhos. A que mostramos nas fotos, Pericallis tussilaginis, é pequena, com 50 cm de altura máxima, e, em vez das amplas umbelas da Pericallis malvifolia, apresenta inflorescências reduzidas a quatro ou cinco capítulos, cada um com 3 a 5 cm de diâmetro. As brácteas involucrais glabras e os florículos centrais de cor creme permitem diferenciá-la da P. cruenta, que é uma planta algo maior e apresenta em regra floração mais abundante.

O arrevesado epíteto específico explica-se pela semelhança das folhas da Pericallis tussilaginis com as do Tussilago farfara, uma estranha asterácea, comum nas montanhas do norte da Europa, em que as flores surgem desacompanhadas por folhas logo após o degelo, e que os ingleses conhecem como coltsfoot.

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