23/06/2019

Souto com orquídeas

Em Junho de 2016, o país recebeu uma excelente notícia: tinha sido descoberto num souto do nordeste transmontano, por Américo e Conceição Pereira, um núcleo com bastantes indivíduos de uma das orquídeas mais bonitas e raras entre nós. Infelizmente, os nossos jornais não se interessam por tais assuntos a menos que eles sejam reportados por agências de notícias estrangeiras, e o leitor não terá dado por nada no Facebook. Estamos aqui hoje para remediar essa omissão.


Cephalanthera rubra (L.) Rich.


Desta planta, a Associação de Orquídeas Silvestres — Portugal tinha registo até então de meia dúzia de exemplares perto de Vinhais, receando pela sua sobrevivência. É que estes soutos antigos, com castanheiros de copas monumentais que no Outono servem generosas quantidades das melhores castanhas portuguesas e em cuja sombra algumas orquídeas se regalam, são privados. E, frequentemente, os proprietários desses bosques não gostam que nas suas terras se descubram plantas que sejam alvo de planos de conservação ou de directivas europeias de protecção. Está-se mesmo a ver o prejuízo: torrão onde se encontre uma planta exclusiva não mais (julgam eles) poderá ser lavrado como o dono bem entender. Daí que, sem apelo nem demora, o solo seja revolvido até não restar memória das herbáceas preciosas que ali se nutriam e da biodiversidade que enriquecia aquele habitat. Por isso, os autores da ficha da espécie na Lista Vermelha da Flora de Portugal entenderam que, apesar de se conhecerem agora mais núcleos desta orquídea, ela continua em perigo.

Do género Cephalanthera ocorre em Portugal outra espécie, a C. longifolia, que tem uma distribuição muito mais ampla (surge de Trás-os-Montes ao Algarve) e é, portanto, bem mais fácil de avistar. É parecida com a C. rubra, mas de flores brancas. Falta encontrar a espécie C. damasonium, frequente na metade oriental de Espanha, que prefere solos calcários em bosques com muita sombra e humidade. Conhecem-se núcleos desta espécie não muito longe do extremo nordeste do país; com sorte, daqui a alguns anos ela seguirá o exemplo do urso pardo e virá fazer-nos uma visita.

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