30/06/2019

Viagem a África

Aizoon canariense L.
Em Lanzarote não há pirâmides, mas não faltam camelos. Há estátuas de camelos em rotundas, e nas estradas grandes cartazes a anunciar passeios de camelo. São verdadeiros camelos africanos de uma bossa só, estabelecidos na ilha há muitas gerações como animais de carga e hoje em dia apenas usados para entreter turistas. Lanzarote é uma África de bolso, árida, com casas baixas e brancas para se defenderem do sol, mas com temperaturas moderadas e sem os perigos e inconvenientes que afastam da África continental os viajantes mais temerosos. E também na vegetação a africanidade da ilha é evidente: as mesmas plantas rasteiras que aqui pisamos poderíamos pisá-las no Egipto, Sudão ou Marrocos. Um exemplo é este Aizoon canariense, muito comum nas zonas costeiras de Lanzarote. Apesar do epíteto canariense dado por Lineu, a planta anda longe de ser exclusiva das Canárias: aparece também na Madeira (Ponta de São Lourenço) e em Cabo Verde, estende-se por todo o norte de África, alcança a Arábia, Irão, Afeganistão e Paquistão, e dá ainda um pulo à África do Sul, Namíbia, Moçambique e Angola. Uma viagem confortável e segura de uma ponta a outra do continente africano e mais além, esta que a imaginação faz no rasto de uma planta que apenas avistámos em Lanzarote.

O Aizoon canariense, que nas Canárias é chamado pata perro (= pata-de-cão), é uma planta anual (às vezes perene de vida curta), suculenta e sedosa, de hábito prostrado, com grossas hastes muito ramificadas. As folhas são peludas em ambas as faces e têm tamanho muito variável, com 1 a 7 cm de comprimento por 0,5 a 4 cm de largura. As flores são pequenas, amarelas ou esverdeadas, com 12 a 15 estames reunidos em 4 ou 5 feixes, e estão aninhadas nas axilas das folhas. Os frutos, de cor vermelha e textura esponjosa, têm 5 a 9 mm de diâmetro, e apresentam uma nítida concavidade central. A floração, pelo menos na Madeira e nas Canárias, decorre durante todo o ano. Não sendo normalmente consumida, a planta é comestível: em épocas de fome, as folhas eram usadas como alimento por povos indígenas sul-africanos.

O género Aizoon e a família Aizoaceae a que dá nome são predominantemente africanos, com alguns representantes na Austrália. Entre nós, o mais conhecido membro da família é o sul-africano Carpobrotus edulis, o temível chorão-de-praia que invade dunas e falésias do Minho ao Algarve. Outra aizoácea naturalizada em Portugal continental e nas ilhas é a Tetragonia tetragonoides, os espinafres-da-Nova-Zelândia que substituíram em sopas e saladas os genuínos e esquecidos espinafres (Spinacia oleracea).

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