12/02/2023

Mato mourisco

Suaeda vermiculata J. F. Gmel. [= Suaeda mollis (Desf.) Delile]


As plantas do género Suaeda são pequenos arbustos ou herbáceas anuais, com folhas carnudas mais ou menos cilíndricas, que vivem em solos arenosos ou argilosos, muitas vezes em locais alagadiços e com alto teor de sal. É por isso curioso saber que Suaeda vem do árabe — é de facto o nome que nessa língua se dá à Suaeda vera, a espécie mais comum do género na região mediterrânica — e significa insossa. Apesar de frequentarem habitats semelhantes, as diversas espécies de Suaeda não acumulam sal como fazem as salicórnias e sarcocórnias, e portanto não têm vocação para tempero culinário.

Mas as Suaedas são mais versáteis do que as salicórnias e aparentadas: não são exclusivas de sapais e estuários, e por vezes vivem longe do mar, dispensando o sal mas não a areia. A proximidade da água, salgada ou doce, não parece ser determinante para espécies que se adaptaram a climas desérticos como o de Fuerteventura, nas Canárias, ou o de Marrocos, no quadrante noroeste do continente africano. Um exemplo é dado pela Suaeda vermiculata, acima ilustrada, que se distribui por quatro das ilhas Canárias (Fuerteventura, Lanzarote, Tenerife e Grã-Canária) e ainda por Cabo Verde e pelo norte de África. Conhecida no arquipélago espanhol como matomoro brusquillo, é um arbusto rasteiro, glabro, com folhas glaucas frequentemente tingidas de vermelho, de uns 5 mm de comprimento, apresentando a face superior plana ou ligeiramente côncava; as suas flores são axilares, reunidas em grupos de duas ou três, e exibem anteras de um amarelo vivo.

São cinco as espécies de Suaeda presentes nas Canárias, todas elas ocorrendo em Fuerteventura, a mais árida das ilhas e também a que, com as suas dunas a perder de vista, tem maior extensão de habitat favorável. Pela coloração das flores e das folhas, a Suaeda vermiculata distingue-se bem de quase todas as suas congéneres no arquipélago, mas não da Suaeda ifniensis — que, em todo o caso, aparenta ter folhas mais estreitas e compridas e estames não tão vistosos.

Na berma de estrada em Fuerteventura onde captámos as fotos, a secura do solo argiloso parecia corroborar o desdém da Suaeda vermiculata pela água. Contudo, uma ligeira depressão no terreno, indicadora da passagem de maquinaria pesada, terá permitido a acumulação de humidade e talvez criado algum efémero charco. Sinais de água não havia, mas as plantas têm sensores mais apurados do que os nossos e estavam à espreita de uma oportunidade. E, além da Suaeda, preparada para sobreviver à mais impenitente secura, algumas plantas anuais, entre elas uns muito apelativos goivos, aproveitavam a inesperada benesse para germinar e florir fora da época prevista.

Sem comentários :