Bouquet de semprevivas
Limónios, semprevivas ou lavandas-do-mar são três modos de em português designar as plantas do género Limonium. Chamamos-lhes semprevivas porque as flores, depois de secas, mantêm a forma e a cor quase indefinidamente — e nisso são um investimento de longo prazo tão compensador como as flores de plástico. Sucede que há outras plantas não aparentadas com estas (como as do género Helichrysum) que produzem flores de igual longevidade e também estão à venda em floristas, e por isso o nome sempreviva padece de ambiguidade. Lavanda-do-mar é um nome mais eufónico e evocativo, e alude correctamente à preferência das diversas espécies de Limonium pela proximidade do mar, mas dá-se o caso de estas plantas não terem qualquer parentesco com as verdadeiras lavandas (género Lavandula). Talvez seja melhor conformarmo-nos com o nome limónio: soa bem, é português correcto, não se aplica senão a estas plantas, e remete de imediato para o seu nome científico. Convém é saber que Limonium (ou limónio) nada tem a ver com limões. Na raiz desta palavra, que vem do grego antigo, está leimon, que significa "prado húmido"; o mesmo termo deu origem à palavra latina limu, que em português significa "limo" ou "lodo". Erva-dos-lodos até seria nome apropriado para os limónios, atendendo a que muitos deles vivem em sapais.
Embora haja notáveis excepções, não é esse o caso da maioria das espécies de Limonium nas Canárias, dada a escassez no arquipélago de habitats paludosos costeiros. Assim, e ainda que o mar nunca esteja longe, muitos dos limónios canarinos adaptaram-se à secura, vivendo em locais rochosos e invariavelmente soalheiros. Dessa opção de vida são exemplo as duas espécies que hoje mostramos, ambas de Tenerife. O Limonium macrophyllum (em cima) vive no nordeste da ilha, nas escarpas e montanhas de Anaga, por vezes em lugares elevados: os exemplares das fotos moravam em Chinamada, à altitude de 600 metros. Por contraste, o Limonium imbricatum (em baixo), que também ocorre em La Palma, não foge de ser salpicado pelas ondas: vive em falésias costeiras no noroeste de Tenerife, e vimo-lo nos arredores de Buenavista del Norte, refugiado na estreita faixa livre entre um campo de golfe e as arribas marítimas. Com as suas flores de sépalas azuis e corolas brancas, estes dois limónios pertencem claramente à linhagem do Limonium puberulum, endémico de Lanzarote e de Fuerteventura. As diferenças, porém, são fáceis de apontar. Como indica o epíteto específico, as folhas do Limonium macrophyllum são grandes — e, ademais, lustrosas (contrastando com o tom baço das folhas do L. puberulum) e com um veio central proeminente, amiúde tingido de vermelho. O Limonium imbricatum é ainda mais distintivo, com as folhas lobadas dividas em segmentos que se sobrepõem parcialmente como as telhas de um telhado, e com as hastes florais guarnecidas de alas onduladas e muito largas.
Tanto um como outro limónio produzem colorida abundância de flores que, uma vez amputadas das plantas de onde brotaram, fariam boa figura em qualquer sala de estar. Mas, tratando-se de espécies raras e ameaçadas, tal colheita não se recomenda nem é legalmente permitida. E flores vivas em ambiente natural são incomparavelmente mais bonitas do que flores secas enfiadas numa jarra — mesmo que, com mais pó ou menos pó, estas durassem para sempre.