02/09/2004

Viajante

«Tenho a alma cheia de campo, depois de atravessar estas distâncias (...). Os camponeses tomam um punhado de terra, desmancham-na entre os dedos, tomam-lhe o cheiro, sorriem... Nós só vemos aquele pequeno torrão escuro, que se desagrega; eles, não: eles estão vendo semeaduras, colheitas, o vento folgazão, a chuva maternal, o sol poderoso, mulheres, crianças, a casa levantada, a mesa posta... Os olhos dos camponeses são feitos de paisagens prósperas. Estas são criaturas que não podem separar-se da terra. A terra é o seu corpo, e sua alma. Ramos, raízes, flores, tudo isso está em seus braços, em seus cabelos, em seu rosto.»

Cecília Meireles, Crónicas de Viagem (1953)

1 comentário :

ManuelaDLRamos disse...

«...vento folgazão, chuva maternal, sol poderoso...»
Que bonito! 'Adoro' a Cecília Meireles!