31/10/2005

Dragoeiros nos Açores



Fotos: pva 0509 - Dracaena draco no Jardim Duque da Terceira, Angra do Heroísmo

Ainda que haja dúvidas de que o dragoeiro (Dracaena draco) seja nativo dos Açores, ele é tão característico dessas ilhas como da Madeira e das Canárias, de onde é seguramente originário: não há verdadeiro jardim açoriano onde ele não compareça. Este exemplar, que mora no patamar superior do Jardim Duque da Terceira, terá decerto idade considerável, embora não atinja o porte monumental de alguns na Madeira e nos jardins botânicos de Lisboa. O que nele há de assinável é que, ao invés do que é típico da espécie, se ramifica quase a partir da base. De resto a ramificação segue a regra dicotómica ditada pela genética: cada ramada se vai bifurcando sucessivamente, com as folhas pontiagudas dispondo-se em coroas nas extremidades dos ramos mais jovens; o efeito do conjunto, com a copa perfeitamente circular, é semelhante ao de um amplo guarda-sol de varetas intumescidas.

O estatuto do dragoeiro na iconografia açoriana é confirmado por um livro que comprei na livraria In-Fólio (na Rua da Guarita, em Angra): editado em 2005 pela Presidência do Governo Regional dos Açores, e com o título Dragoeiros do Museu do Vinho, o volume - encadernado, 72 páginas - reúne excelentes fotos da autoria de António Araújo e alguns breves textos introdutórios. Pela clareza e rigor, realço o de João Paulo Constância, de que aqui transcrevo um excerto: «Esta espécie de dragoeiro foi uma das principais espécies tintureiras, com interesse comercial, utilizadas entre os séculos XV e XIX. A sua resina, transparente e de cor vermelho sangue, é conhecida por sangue de dragão ou drago, tendo sido utilizada como substância corante e na produção de tintas, lacas e vernizes. Há também referência ao uso da resina em medicina popular.»

O Museu do Vinho fica na Vila da Madalena, Ilha do Pico. Visitei a ilha há uns anos de corrida, mas não vi o museu. Há agora mais motivos para lá voltar, mesmo para quem, desprovido como eu de ambições políticas, se iniba de ascender ao cume da ilha.

P.S. (2 de Novembro): Veja aqui os notáveis dragoeiros do Museu do Vinho. Obrigado, Pedro.

8 comentários :

Anónimo disse...

bom dia Paulo

Pensei logo nos dragoeiros do museu do vinho qd vi o titulo da entrada de hoje. Vale MESMO a pena visitar o museu e os dragoeiros nao sao o unico atractivo. Ha' alguns "currais" de pedra vulcanica para a vinha e o patrimonio edificado tambem e' bonito. E claro, em ano de boa colheita, uma garrafinha gelada de Terras de Lava nao e' coisa a que diga nao.

Outro local a visitar nas imediacoes da Madalena e' a Quinta da Rosa, uma verdadeira surpresa. Se tem dragoeiros nao os retive na memoria, mas esta' la' o pinheiro que tem o tronco mais fantastico que alguma vez vi.

Na vizinha Horta, no Jardim Florencio Terra, situado mesmo em frente ao velho hospital, existe um conjunto de 4 dragoeiros cujas copas se unem, como se de um so' dragoeiro se tratasse. E ha' outro pormenor irresistivel. Uma Palmeira muito alta e estreita (desconheco o nome da especie) cujo tronco "fura" por entre os dragoeiros. Mas parece que se dao todos bem, nao estao nada apertadinhos nem com aspecto debil.

Ah, e lembrei-me agora de um outro dragoeiro curioso no Pico, vive na estrada que liga a Madalena as Lajes. Esta' mesmo a beira da estrada, por onde corre um murete de pedra vulcanica. No exacto local do Dragoeiro interrompe-se o muro que depois continua de ambos os lados. Fiquei contente e enternecida qd reparei nesse "pormenor". Nao porque nao seja a coisa natural a fazer mas porque em Portugal ha' um certo habito de fazer o que nao e' natural.

Paulo Araújo disse...

Boa tarde, Verónica
("tarde" e não "dia" porque, apesar de estarmos no mesmo fuso horário, já passaram algumas horas). Pois é, sabes muito mais do que eu sobre o assunto do título, e só tenho que ficar grato pelo teu contributo. Preciso de voltar ao Pico também para me redimir dessa visita apressada de há uns anos. Ficou-me nos olhos o reticulado dos muretes de lava a dividir os campos pela encosta acima. Ah, mas não perdi tudo porque entretanto já bebi várias vezes (nas visitas à Terceira) o Terras de Lava.

POS disse...

Olá,

Também eu me lembrei logo dos dragoeiros da Madalena. Tenho fotos deles (fracas), mas não aqui onde escrevo. Quanto ao Museu do Vinho, localizado numa antiga casa monástica, vale, essencialmente, pelo enquadramento. O núcleo museológico, apesar de arrumadinho, é pobre, nada interactivo e sem pessoal qualificado que esclareça os visitantes devidamente. Assemelha-se a tantos museus etnográficos que por aí há (e ainda bem), em terras sem as pretensões de uma paisagem declarada Património da Humanidade. Quanto ao sempre apetecível brinde - sugiro Lagido (verdelho) e não Terras de Lava (um vinho de mesa branco) -, tem de ser feito noutros sítios, como a cooperativa vitivinícola. Ali, não há nada para ninguém...

P.S. Fazem também uma bebida adocicada, chamada Angelica. É uma espécie de jeropiga, mas nada desagradável ;-)

Anónimo disse...

Caso haja interessados em criar um dragoeiro... as sementes germinam bem e e' possivel encontrar muitos filhotes debaixo de um dragoeiro adulto. Se forem obtidos num jardim publico atencao para chegar antes dos jardineiros zelosos na manutencao dos canteiros "limpos". Depois de um estagio, num pacote tetra-pack por exemplo, os dragoeiros podem em menos de 1 ano ser passados ao seu local definitivo.


PS: Sim, tem razao POS, o Terras de Lava nao se saboreia no M. do vinho. Do Lagido o que mais gosto e' da garrafa estreita e elegante. Por alguma razao que desconheco, o verdelho que chegou as mesas dos Czares nunca me seduziu os sentidos. Eu gosto mesmo e' de Terras de Lava, branco de mesa, de vida efemera, fresco, sabor quase adocicado, mistura floral e citrino-apessegada. Sobretudo se vier a regar um cherne ou umas lapas grelhadas na ampla sala do Parisiana.

Anónimo disse...

hoje apanhei umas sementes e vou tentar fazer com que germinem...não sei é bem como...se calhar vai mesmo ser mais fácil "roubar" um junior num jardim

Sílvia Diana Costa disse...

boas ... conheço um na ilha das Flores ... na freguesia da Faja Grande ... é enorme .. tenho fotos dele no meu blog.

Cumprimentos

Anónimo disse...

Alguém tem e poderia me enviar sementes de dragoeiro? Moro no Brasil. ljs2905 (@) gmail . com

Maria do Mar disse...

Os meus agradecimentos pelo que fiquei a saber, assim vale a pena contribuir para a cultura.