Culpa e expiação
Pinus wallichiana A. B. Jacks.
Quando no princípio do mês de Setembro visitámos o Parque de São Roque movia-nos um propósito: apresentarmos a este pinheiro um sincero e pungente pedido de desculpas. Felizmente que ele ainda está vivo e para durar, pois senão as desculpas teriam sido póstumas; e não sabemos se tal prática, que ultimamente se tem banalizado entre os humanos, é aceitável no reino vegetal. E fomos nós, os culpados pelo ultraje, a admitir o erro, e não algum representante mais ou menos oficial que tomasse para si as nossas culpas. Arrependidos, mas de pescoços bem empertigados para encararmos de frente o nosso interlocutor, jurámos emenda e prometemos reparação.
A afronta deu-se há cinco anos, quando aqui exibimos uma foto do labirinto do Parque de S. Roque onde este pinheiro era bem visível, sem que ele nos tenha suscitado a mais leve menção. Falámos do buxo, das camélias, da faia e do carvalho-americano (entretanto já desaparecido); mas o pinheiro, embora ultrapassasse em altura todas as árvores vizinhas, foi como se não existisse. E, para agravar o caso, a foto reapareceu em livro, ocupando uma página inteira, sem que esta lamentável cegueira selectiva tivesse sido remediada.
O pinheiro aceitou as desculpas que lhe apresentámos, mas impôs certas condições. Dando cumprimento ao que ficou acordado entre as partes, fazemos agora publicar, com um grau de destaque equivalente ao da matéria blogada que corporizou a ofensa, duas fotos do ofendido, acompanhadas por legenda identificando-o claramente pelo nome científico. Mais exigiu o queixoso que louvássemos a sua elegância e raridade, o que fazemos de bom grado mas não sem uma ressalva: não indo longe o tempo em que para nós todos os pinheiros eram iguais, não estamos em condições de asseverar que este Pinus wallichiana seja assim tão raro no nosso país.
Por último, cumpre-nos publicitar os dados biográficos e sinais particulares deste esbelto pinheiro. Originário dos Himalaias, a sua área de distribuição natural vai do Afeganistão ao nordeste da Índia, passando pelo Butão; o seu nome vernáculo nas diversas línguas é justamente pinheiro-do-Butão. Tem uma copa piramidal, pode atingir os 35 metros de altura, e as suas agulhas, que medem de 11 a 20 cm, são pendentes e flexíveis, estando dispostas em grupos de cinco.
P.S. Num gesto de amabilidade tocante, o pinheiro-do-Butão autorizou que aproveitássemos o ensejo para lembrar que as sazankas estão em flor, e que o Parque de São Roque é o melhor lugar do Porto para as ver e cheirar.
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