18/05/2010

Goivinho fugitivo


Malcolmia ramosissima (Desf.) Thell.

Pensei que fosse o meu o teu cansaço –
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...

E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste
Onde a minha saudade a Cor se trava?...


Mário de Sá Carneiro, Indícios de Oiro (1915)


A designação do género Malcolmia homenageia uma família de viveiristas de Kennington e Stockwell (perto de Londres), cujo patriarca, William Malcolm (f. 1820), publicou em 1778 um catálogo afamado de plantas de estufa. Neste género, as flores não têm estilete, o estigma tem dois lóbulos unidos e o fruto é estreito e venado, por vezes constringido entre as sementes, como na espécie ramosissima. Esta planta pequenina, de vida breve nos areais à beira-mar, portugueses e mediterrânicos, tem ramagem farta, recamada, entre Março e Julho, por flores de não mais que 1 cm de diâmetro e atraente cor violeta. É polinizada por borboletas, que vêem um espectro de cores mais rico que o nosso - incluindo o ultravioleta -, reconhecendo matizes e sinais no centro das pétalas onde nós vemos apenas o branco.

A descoberta, a partir do carvão fóssil, do corante sintético violeta transformou, em 1856, o químico William Henry Perkins num industrial rico. Quando propôs aos seus alunos do Royal College of Chemistry (em Londres) a produção de uma alternativa sintética ao quinino (o remédio para a malária, originalmente retirado da casca de árvores sul-americanas do género Cinchona), reparou num resíduo cor de malva que, por ser bonito, sobreviveu à lavagem das retortas. Sendo a última cor do arco-íris - o limite da visão para os nossos olhos -, enriqueceram-na de significados. É uma montra da alma: evoca santidade, pureza, dor, poder, paixão e luxúria. Do mesmo pote nasceram vários azuis, a quimioterapia e algumas das mais poderosas empresas farmacêuticas mundiais.

1 comentário :

Rosa dos Ventos disse...

Belo o poema , belas as imagens!

Abraço