Goivinho fugitivo
Pensei que fosse o meu o teu cansaço –
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...
E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste
Onde a minha saudade a Cor se trava?...
Mário de Sá Carneiro, Indícios de Oiro (1915)
A designação do género Malcolmia homenageia uma família de viveiristas de Kennington e Stockwell (perto de Londres), cujo patriarca, William Malcolm (f. 1820), publicou em 1778 um catálogo afamado de plantas de estufa. Neste género, as flores não têm estilete, o estigma tem dois lóbulos unidos e o fruto é estreito e venado, por vezes constringido entre as sementes, como na espécie ramosissima. Esta planta pequenina, de vida breve nos areais à beira-mar, portugueses e mediterrânicos, tem ramagem farta, recamada, entre Março e Julho, por flores de não mais que 1 cm de diâmetro e atraente cor violeta. É polinizada por borboletas, que vêem um espectro de cores mais rico que o nosso — incluindo o ultravioleta —, reconhecendo matizes e sinais no centro das pétalas onde nós vemos apenas o branco.
A descoberta, a partir do carvão fóssil, do corante sintético violeta transformou, em 1856, o químico William Henry Perkins num industrial rico. Quando propôs aos seus alunos do Royal College of Chemistry (em Londres) a produção de uma alternativa sintética ao quinino (o remédio para a malária, originalmente retirado da casca de árvores sul-americanas do género Cinchona), reparou num resíduo cor de malva que, por ser bonito, sobreviveu à lavagem das retortas. Sendo a última cor do arco-íris — o limite da visão para os nossos olhos —, enriqueceram-na de significados. É uma montra da alma: evoca santidade, pureza, dor, poder, paixão e luxúria. Do mesmo pote nasceram vários azuis, a quimioterapia e algumas das mais poderosas empresas farmacêuticas mundiais.
1 comentário :
Belo o poema , belas as imagens!
Abraço
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