Alfazema da Arrábida
Há plantas portuguesas que nunca ninguém sentiu necessidade de nomear e que nunca andaram nas bocas do povo. Podem até ser plantas bastante comuns, mas, se não tiverem utilidade imediata, a nossa gente, tradicionalmente pouco dada ao mundo vegetal, não toma conhecimento delas. Em contrapartida, as plantas «úteis» recebem tantos nomes como os fidalgos da mais antiga estirpe. Rosmaninho, alfazema e lavanda são outras tantas designações populares para as plantas do género Lavandula. Porém, em contraste com outras plantas da mesma família, como o tomilho e o orégão, as alfazemas não estão ao serviço do nosso paladar, mas sim do nosso olfacto. Há poucas coisas melhores do que o perfume com que elas nos impregnam os dedos quando as acariciamos. E essa olorosa qualidade, além de lhes ter conquistado um destaque nos nossos jardins a que pouquíssimas plantas nativas têm direito, é há muito aproveitada pelos fabricantes de sabonetes e pela indústria de perfumaria.
Haverá umas 25 espécies de Lavandula, concentradas sobretudo na região Mediterrânica, mas estendendo-se também até às ilhas Canárias, ao sudoeste asiático e à Índia. São arbustos perenifólios de até metro e meio de altura, com flores agrupadas em penachos, típicos de habitats soalheiros, secos ou pedregosos. No nordeste de Portugal a espécie mais comum é a Lavandula pedunculata, que aqui já mostrámos nas escarpas do ameaçado vale do Tua. Descendo para sul encontramos a alfazema-da-Arrábida: por ter sido lá que primeiro a avistámos, é esse o nome que gostaríamos de dar à Lavandula multifida, muito embora ela ocorra também no Baixo Alentejo e, indo além de Portugal, em Espanha, em Itália e no norte de África.
O epíteto multifida refere-se ao que a planta tem de mais distintivo: as folhas duplamente pinadas, que contrastam com as folhas simples das suas congéneres mais comuns. Outra característica diferenciadora é que a corola da flor tem a pétala superior muito desenvolvida, formando uma espécie de poupa.
Ensinam os manuais que a Lavandula multifida floresce de Fevereiro a Junho. Se ainda não a viu, de que está à espera o leitor sulista para ir à procura dela?
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