Alienações
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Fotos: mdlr-0402 / Jardim da Cordoaria
« (...) É doloroso e patético ver na Cordoaria os aposentados exercendo o seu direito ao lazer e ao convívio, jogando cartas em posições incríveis, de lado, a três quartos, a cavalo, de pé ou acocorados nos abomináveis bancos de pedra que o pós-modernismo impôs urbi et orbi para suplício dos desgraçados que ainda usam a cidade. Uma vergonha. (...)» Helder Pacheco in "Requalificação Urbana" (JN, 28-10-04)
Esta crónica do distinto historiador da nossa cidade fez-nos procurar nos nossos "arquivos" algumas imagens que têm estado à espera de oportunidade de publicação.
Como disse JCM, que nos chamou a atenção para este texto, «Finalmente começa a haver (além de nós...) quem ouse criticar os monstros sagrados da nossa arquitectura genial e do nosso paisagismo de trazer por casa.»
Fotos: mdlramos- 0310/ Av. Montevideu
Talvez mais ainda do que os do Jardim da Cordoaria, os bancos individuais e desconfortáveis dos passeios ajardinados da Av. Montevideu são mostra da total alienação de quem os concebeu relativamente às necessidades e aos gostos das pessoas de carne e osso que frequentam este espaço. Nem mesmo os namorados (neste caso um casal de meia-idade) os devem achar confortáveis por muito tempo.
4 comentários :
A Araucaria bidwillii do Jardim da Cordoaria esteve, no desenho do jardim do século XIX e até à requalificação de 2001, mais ou menos no centro de um canteiro, delimitado por uma sebe, suficientemente grande para que os utentes do jardim não se magoassem com a queda de uma das pinhas da araucária que - sabia bem Emílio David ao projectar o jardim - são grandes e despencam inteiras. Hoje a árvore tem uma inestética fita vermelha à sua volta como aviso, porque o arquitecto que adulterou este jardim em 2001 colocou um caminho de granito mesmo na base da araucária: uma assinatura a pedra da sua ignorância.
Apesar de essas bancadas de pedra (ou túmulos) da Cordoaria serem um trambolho para a vista e um incómodo para quem nelas se senta, apesar de terem sido maldosamente concebidas para afastar dos jardins os seus antigos (e afinal actuais) utentes - apesar de tudo isto, em lugar de estas bancadas serem removidas, estão a ser colocadas outras exactamamente iguais no Largo do Prof. Abel Salazar (junto ao Sto António e ao ICBAS).
Conclusão: o desagrado público e o desconforto dos utentes nada pesam quando, no outro prato da balança, temos o inalianável direito de um arquitecto (Camilo Cortesão de seu nome) ver concluída a monstruosidade que projectou.
Paulo... mas que bancos horrorosos, sem dúvida! Quem será o "gênio" que arquitetou esses monstrengos??? Na minha humilde cidadezinha natal houve um padre que mandou cortar todas as árvores do jardim, sob a alegação de que os casais de namorados se escondiam debaixo do seu escuro, à noite, para namorar... que quadrúpede!
Seria tão bom se pudéssemos mudar essa ordem de coisas...
E para quê e porquê é que esses brutos aprendizes de Maquiavel querem tirar de lá os velhotes? Para dar lugar às brasileiras?!
Muito bem, chamar os burros pelo nome!
O pior é que lhe pagaram, cerimónias da treta não devem ter faltado e andará feliz da vida sem haver a mínima hipótese de lhe cair uma pinha nos cornos, já que de certeza não tenciona chegar sequer perto da 'obra'.
(Aos que enterraram não sei quantos milhões na faculdade de engenharia, um hino à estupidez, uma aberração disfuncional, assim aconteceu -os motivos são óbvios: alguém os escolheu e aprovou...)
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