Árvores migratórias
Há anos que se verifica o fenómeno, mas ultimamente ele tem-se banalizado: as árvores do Porto, contrariando a sua vocação sedentária, andam irrequietas a saltar de poiso em poiso. Tamanha mobilidade não é boa para a sua saúde: ficam reduzidas, descarnadas, de grandes chagas expostas. Fogem para salvar a vida (ou o sopro de vida que lhes resta depois da mudança), mas por vezes nem isso conseguem. Foi o caso, no Verão de 2003, dos plátanos da Rua de Camões: expulsos pelo Metro, refugiaram-se na Estrada da Circunvalação, onde a construção de uma rotunda ditou a sua morte poucas semanas depois.
Já aqui falámos das tílias da Rua D. Manuel II que, forçadas pelas obras do enguiçado túnel de Ceuta, se mudaram para a Praça da República. Mais abaixo, na mesma rua, quatro tílias centenárias à frente do Palácio de Cristal foram abatidas por estarem doentes. Na semana passada, seriamente maltratadas pela viagem, começaram a chegar as suas substitutas. Vêm da Avenida da Boavista - ou melhor, do Circuito da Boavista, onde as Donas Elviras, quais velhas tontas, irão daqui a três meses competir à desfilada.
Numa cidade em que a cada instante as árvores se atravessam no caminho de uma obra, é uma séria desvantagem que elas insistam em prender-se ao chão pelas raízes, desse modo dificultando as suas frequentes e necessárias migrações. Está na hora de as plantarmos sobre estrados rolantes, para que possam ser removidas sem esforço sempre que o interesse público assim o exija.
4 comentários :
E as do Marquês? Também não há uns plátanos que tiveram de ser transplantados de lá?
S. (de Sementinha ;-)
Esses plátanos foram parar à Praça Velasquez, mas os que ficaram no Marquês também foram muito maltratados.
A desculpa para abater a árvore ser devida ao facto de estar doente tem um fundo de hipocrisia e de inresponsabilidade muito grande, quando não é o último argumento que usa para tentar calar a contestação.
Devia-se perguntar a quem o argumenta, se quando estiver com gripe quer que lhe demos um tiro. Muitas vezes "as doenças" das árvores têm cura.
Não nos esqueçamos nunca do silêncio tantas vezes assumido pelo perigo de determinada situação ou, neste caso, árvore.
Não nos esqueçamos de que, muitas vezes por baixo desses silêncios, passeiam os nossos filhos!
Reparemos nos sinais que muitas dessas árvores nos tentam, timidamente mostrar... e a nossa distração ou insistência egoista em as manter, não nos deixa VER!
Por alguma razão já aconteceram tantos acidentes com as tílias do Porto... de facto, se repararmos, os acidentes deram-se sempre com as mesmas características! Porque será? Haverá certamente uma razão técnica que, por inadequação de formação, não sei encontrar!
No entanto, porque não gosto que questionem o meu trabalho, tenho também como princípio, o de confiar (até provas em contrário) no dos outros. E... muito sinceramente, não concordando com o abate sem qualquer razão das nossas árvores, confesso que em momento algum gostaria de me ver (ou aos meus) atingida por tão aparatoso acidente! Quem gostaria? Quem assumiria tal risco (existendo ele, claro)? A que preço?
... não me parece que haja quem...
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