Carvalho clandestino
Fotos: pva 0505 - Quercus pyrenaica - Parque da Cidade do Porto
As árvores do Parque da Cidade do Porto não formam uma amostra representativa da flora portuguesa. Na escolha das espécies privilegiaram-se as ornamentais produzidas em grande quantidade em viveiros nacionais e estrangeiros - mas espécies nossas como o azevinho, o medronheiro, o azereiro e o carvalho foram quase esquecidas. Embora haja lá alguns exemplares de carvalho-comum (Quercus robur), ele não é tão abundante quanto deveria ser; foram ainda plantados alguns jovens sobreiros (Quercus suber); mas de resto, quanto ao género Quercus, nada mais se pôs no Parque a não ser um exageradíssimo número de carvalhos americanos (Q. rubra e Q. coccinea). Ninguém lá plantou uma única e escassa azinheira, nem carvalho-cerquinho, nem carvalho-negral.
Acerca de carvalhos no Parque da Cidade, era isto que sabíamos - até depararmos, há umas seis semanas, com uma pequena árvore que, se não contraria estatisticamente o que acima se escreveu, exige pelo menos uma ressalva. É óbvio que a árvore é clandestina, pois ninguém a plantaria assim, no meio de silvas e colado a um pinheiro; mas como pôde lá ter nascido, se em todo o Parque não existe outra da mesma espécie? Terá um pássaro trazido a bolota? Alguém a semeou? Trata-se de um carvalho-negral (Quercus pyrenaica), espécie endémica do sudoeste europeu que é espontânea no interior norte e centro de Portugal. A folha deste carvalho, de lobos mais sulcados que a do carvalho-comum, distingue-se também pela sua densa penugem (por contraste, a folha do Q. robur é glabra).
Além de clandestino, este carvalho-negral é também pioneiro - o primeiro da sua espécie que alguma vez encontrámos no Porto. Oxalá seja legalizado e protegido, e outros seus irmãos se lhe possam vir juntar.
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