02/12/2007

Orelhinhas-de-rato


Myosotis discolor

«Tenho a impressão de que os fotógrafos que conheço pessoalmente (os «de arte», evidentemente) andam todos à procura de uma razão, melhor, de uma «filosofia» que lhes explique o porquê da fotografia e lhes forneça um guia para a acção (a de fotografar, claro). Vivemos em tempo de exegetas. Explicar a criação (o criado) tornou-se tão importante (ou mais) do que própria criação. Nunca o aparato crítico-exegético se viu tão apetrechado e com gente tão dotada como hoje. Diremos até, que, nos mais felizes dos casos, a exegese é, só por si, uma verdadeira obra de arte. (...)

Volto aos meus bons amigos fotógrafos para os compreender nas suas preocupações e os prevenir nas suas ambições. Descobrir a fórmula que nos permita - a nós, criadores - repetir os milagres é uma tentação bem humana. Mas não esqueçamos, clique!, bons amigos, que a arte é desregra permanente. Uma fórmula na mão só nos garante que seremos capazes de nos repetir ad infinitum para os basbaques, a começar pelo basbaque que há em nós. Uma fórmula não abre caminhos; fecha caminhos. Deixem que cada um dos vossos momentos felizes não se repita mais.

À parte isso, filosofem como quiserem e descubram, a cada milagre, que não sabem nada, mesmo nada, e que o melhor ainda é repartir sempre do zero.

Cautela, amigos, com o olho mobilado pelo lugar-comum.»

Alexandre O'Neill, Uma coisa em forma de assim (1985)

5 comentários :

ContorNUS disse...

Obrigada pela partilha desse olhar atento e da mente consciente ao mundo

red angel disse...

Bonitas fotos.

Rosa disse...

Grande O´Neill, enormes Trigonotis.

bettips disse...

Há que tempos falava ele! Mas não conhecia os olhos das pequenas flores que nos dão a ver e que nunca veríamos sem vós. Abçs

Maria Carvalho disse...

Cada flor de Trigonotis mede cerca de um terço de um miosótis, mas cabe lá o mesmo azul.