Portela de Leonte
Chamaecyparis lawsoniana (A. Murray) Parl.
Criado oficialmente em 1971, o Parque Nacional da Peneda-Gerês é o único espaço natural do país a merecer esse estatuto máximo de protecção. E também parece ser o único verdadeiramente a salvo da acção danosa de um primeiro-ministro que fez da destruição da natureza uma prioridade governativa. Quando tiverem desaparecido os vales do Tua e do Sabor, quando todos os rios tiverem sido transformados em obesos espelhos de água, quando os campos agrícolas estiverem semeados de eucaliptos, quando não houver cume sem ventoinhas nem serra não devassada por largas estradas poeirentas, quando os Projectos de Interesse Nacional tiverem feito tábua rasa dos planos de ordenamento — quando chegar esse tempo funesto que em larga medida é já aquele que vivemos, ainda vamos ter, mais ou menos intocados, os montes e vales do Gerês.
A estrada por vezes íngreme, cheia de curvas e contracurvas, que vai da pequena vila termal do Gerês até à fronteira da Portela do Homem proporciona a mais fácil introdução à variada ecologia do Parque. São tantos os cursos de água à nossa volta — rios, ribeiros, cachoeiras, escorrências, regos cavados na berma da estrada — que a serra parece ser, toda ela, um manancial inesgotável de água cristalina. Há os carvalhos e os medronheiros da Preguiça, um pouco adiante aparecem bétulas e, já perto de Espanha, rodeia-nos a frondosa e formosa mata de Albergaria. Da Portela de Leonte, junto à casa florestal, parte um trilho que, subindo pela serra, nos leva a visitar pinheiros-silvestres, azevinhos e carvalhos-negrais antes de nos conduzir a miradouros formados por grandes rochas empilhadas.
As casas florestais, como a da Portela de Leonte, são despojos de uma profissão que, em Portugal, já não existe: a de guarda-florestal. À volta dela vemos os ciprestes-de-Lawson que os serviços florestais de meados do século XX plantaram pela serra em companhia de outras coníferas exóticas: abetos-de-Douglas, sequóias, ciprestes-do-Buçaco. As suas copas pontiagudas, à maneira de fusos, emprestam um tom dissonante à paisagem, mas o Gerês não é floresta virgem, e outras alterações houve por mão humana que causaram estragos bem mais sérios. Não menos do que a casa a que fazem escolta, os empertigados ciprestes-de-Lawson são parte da história do nosso único Parque Nacional.
3 comentários :
Um pouco amargo esse primeiro parágrafo, mas realista, infelizmente. A extinção da espécie dos guardas-florestais, por outro lado (ou pelo mesmo), também leva a reflexões sombrias. Porque terão deixado de ser necessários?
Li algures - não sei se é inteiramente verdade, mas não há-de andar longe - que Portugal é o único país da Europa (ou, mais geralmente, do mundo ocidental) onde não existe a profissão de guarda-florestal. Isso diz muito sobre a importância dada à conservação da natureza por quem nos tem governado nas últimas décadas.
A razão da não existência desta classe é fácil de explicar. se já práticamente não há floresta, a não ser algumas árvores que resistiram, não porque alguém as protege-se, ou tivesse interesse nisso, e não nas horas e ajudas ou subsídios a receber, está explicado.
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