12/01/2010

Rosas de albardeiro

Paeonia broteroi Boiss. et Reut.


Conta o mito que, ao nascer Zeus, a mãe, Rhea, fincou as mãos no solo, e desse gesto quase humano brotaram dez seres ardilosos: cinco femininos da mão esquerda, com poderes mágicos, cujos nomes estão ainda hoje no segredo dos deuses; e cinco masculinos da direita, hábeis artesãos do ferro. Um deles é Paeonius, que nesta narrativa se enreda com Paeon, sábio médico do Olimpo que teria descoberto algum uso medicinal na planta que veio a receber o seu nome.

Paeonia é o único género da família Peoniaceae, antes incluído na Ranunculaceae, com cerca de 30 espécies de herbáceas e arbustos, além de muitas variedades de jardim. Têm folhas alternas e divididas (três divisões principais e, por vezes, subdivisões), e flores perfumadas mas de curta duração que em certas espécies — como a P. suffruticosa Haw. — chegam aos 30 cm de diâmetro. São originárias de prados, bosques e solos rochosos da Europa, leste da Ásia (as de porte arbustivo são da China) e norte de África, e há ainda duas espécies da Califórnia. A polinização está entregue a besouros; os frutos são deiscentes e contêm numerosas sementes escuras com arilo carnudo e outras vermelhas inférteis.

As fotos acima mostram a rosa-albardeira (ou erva-casta, rosa-cuca, rosa-de-lobo), espécie do centro e sul de Portugal e sudoeste de Espanha. Atinge os 40 cm de altura, é perene e aprecia matagais de montanha, locais pedregosos e sombrios de barrocal e ribas de rios. As flores têm 8 a 10 cm de diâmetro, filamentos dos estames amarelos e dois a quatro carpelos penugentos. A floração ocorre de Abril a Junho. Distingue-se, na ausência de flores, da peónia-comum (Paeonia officinalis subsp. microcarpa) por ter folhas glaucas e glabras e pecíolo de secção redonda.

Paeonia officinalis subsp. microcarpa (Boiss. & Reuter) Nyman
As flores da Paeonia officinalis subsp. microcarpa são um pouco maiores (10-13 cm) e os filamentos dos seis estames são vermelhos. A face inferior das folhas é pubescente, a haste é sulcada e os folíolos têm lóbulos menores. O frutos não têm penugem, mas os pés das flores sim. Prefere matos do sudoeste da Europa, onde floresce de Abril a Julho. Como a espécie anterior, as suas flores têm cinco sépalas verdes desiguais, e cinco a nove pétalas de cor vistosa. Ao contrário do que anuncia a designação vernácula, é mais rara que a P. broteroi, e só fotografámos este exemplar solitário porque um leitor generoso nos disse onde o tinha encontrado: Casal Monizes, na serra de Candeeiros.

10 comentários :

Rosa disse...

Também quero leitores desses : ). É que nunca tive o privilégio de ver nenhuma, e gostava tanto...

Luz disse...

É linda!
Obrigado ao leitor...
Luz

Paulo Araújo disse...

Rosa, nós não tivemos informações mais precisas do que aquela que a Maria transmitiu no texto. E só encontrámos uma dessas peónias junto à estrada. Como já era fim da tarde, não nos metemos pelos caminhos da serra perto de Casais Monizes, e se o tivéssemos feito é provável que encontrássemos mais. Voltaremos lá em Abril ou Maio deste ano.

Rosa disse...

É isso nesmo que vou fazer este ano, procurar a dita albardeira por montes, serras e vales.

omontesinho disse...

Ao longo da margem esquerda do Tejo, entre a foz da ribeira de Nisa e as Portas de Ródão abundam, mas a floração é mais cedo: Em março são lindas, de suave perfume, e podem-se transplantar com facilidade.

GPC disse...

Em Soutelo do Douro, bem a norte de Portugal, vê-se bastante.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=726417797411723&set=a.248950318491809.71344.100001305297602&type=1&theater

Luíza Frazão disse...

Na minha infância chamavam-lhe Rosa Albardeira e uma vez vi uma numa terra que os meus pais tinham na serra (zona da Serra dos Candeeiros). Ficou-me sempre a sensação de algo de místico ou até sagrado... Numa viagem a Fátima a pé há alguns anos encontrei uma vez a mesma planta, junto a Minde, e aí percebi por que se tornou tão rara na natureza, porque as pessoas as apanham para os jardins!Como dizia alguém aqui mesmo num comentário "São fáceis de transplantar"... ou seja é fácil destruir o milagre da sua vida selvagem e espontâncea, é fácil impedir que outras pessoas tenham a visão dessa incrível e mítica beleza, é fácil impedir os insetos de usufruirem do seu néctar, sim, tem sido fácil demais destruir a natureza...

Garraio disse...

Nas minhas caminhadas pelas serras de Marvão, entre os bosques de castanheiros e nogueiras, pude ver muitassss nos últimos dois fins de semana. Hoje não resisti e arranquei uma planta que já mora no meu jardim! Espero que sobreviva!

aamorim disse...

Esta planta também existe no Vale Grande concelho de Pampilhosa da Serra, nas encostas viradas a Norte. É conhecida por Cuca. É uma planta que corre o risco de desaparecer pois é muito procurada por pessoas que as arrancam para levar para os seus jardins. É pena que as entidades da edilidade não se debrucem sobre este assunto.

Anónimo disse...

Hoje vi e fotografei várias num pequeno bosque na povoação de Alvados, no PNSAC. Já o ano passado as tinha visto lá e calro que voltei este ano... Também na semana passada pude ver e fotografar algumas em Montejunto. São uma beleza!
L.Lima