Semana das cruzes
Alliaria petiolata (M. Bieb.) Cavara & Grande
Não é nossa intenção iniciar celebrações pascais com seis semanas de antecedência, mas quem assim quiser interpretar este novo ciclo temático pode fazê-lo sem pedir licença. Com os anos a correrem vertiginosamente, todas as datas se atropelam no calendário. Seria por isso fútil esperarmos pelo dia certo: é quando nos lembramos, e pode ser antes ou depois.
A bem do rigor, esclarecemos contudo que as cruzes da semana nada têm a ver com a de Cristo. Acontece que resolvemos montar uma exposição (que será completada na sexta-feira, e depois ficará a vogar no ciberespaço até à eternidade) de plantas crucíferas, que recebem esse nome por as suas flores terem as quatro pétalas dispostas em cruz. Acumulámos muitas crucíferas no arquivo; agora que tantas delas estão em flor, é boa altura para lhes dar vazão.
Como já antes aqui mostrámos plantas da mesma família, o leitor deverá complementar as novidades da semana com as lições antigas a que pode aceder clicando na etiqueta Cruciferae. Não havendo mal nenhum em recapitular, lembramos que a nossa culinária não seria o que é sem essas utilíssimas plantas. É inimaginável confeccionar uma honesta sopa caseira sem pencas, repolhos, rabanetes ou nabos. (Há a canja, a sopa alentejana e as sopas de peixe ou de marisco — mas nada disso preenche os requisitos de uma verdadeira sopa.) E a esta lista de maravilhas devemos ainda acrescentar o agrião e as diversas mostardas.
Além das plantas cultivadas nas hortas, e algumas outras que ascenderam à categoria de ornamentais, há em Portugal muitas crucíferas espontâneas — cerca de 150 espécies — que para nós não têm outra utilidade senão a de existir. Algumas são grandes e vistosas, outras destacam-se pela abundância, muitas são efémeras e discretas. As duas crucíferas desta sessão inaugural, ambas de flores brancas (e o branco vai ser a cor dominante da semana), definem o intervalo em que as outras se vão encaixar: a Alliaria petiolata, planta bienal, é grande, capaz de atingir um metro e vinte de altura, enquanto que a Cardamine hirsuta é uma planta anual que em regra não sobe acima dos dez ou quinze centímetros.
No vernáculo, a Alliaria petiolata é tratada como erva-alheira: as suas folhas, quando esmagadas, cheiram a alho. Por esse motivo, e também porque as suas sementes podem ser usadas para produzir mostarda, os ingleses chamam-lhe garlic mustard. É uma planta comum em grande parte da Europa, que floresce de Março a Julho e prefere lugares sombrios como bosques ou sebes. Em Portugal, onde não é muito vulgar, concentra-se na metade norte. Conhecemo-la das margens do Tâmega, em Amarante, e de vários outros rios transmontanos.
Se o leitor cultivar um pedaço de terra, ou guardar na varanda alguns vasos ou floreiras, então reúne todas as condições para observar ao vivo a Cardamine hirsuta — que, em português, é conhecida como agrião-menor ou agrião-de-canário. Por ser amarga, esta plantinha não se recomenda para condimento; e, não se podendo considerar decorativa, ninguém a cultivará de sua livre vontade. Trata-se pois de uma planta que depende de si própria para sobreviver, e não se tem dado nada mal com isso. A sua curta existência decorre de Fevereiro a Maio: são quatro meses para florir, frutificar e lançar as sementes para a geração do ano seguinte.
2 comentários :
mbora não seja crente sei que estaos na época da Quaresma, periodo que ntecede a Páscoa. Por isso nada de mais, começar a celebrá-la com tão lindas e singelas flores.
Ontem fui a expo das Camélias e adorei. Podem ver no meu blogue se quiserem:)
http://www.coremmovimento.blogspot. com
Obrigado pelo comentário e pela bela reportagem. Também lá estivemos na exposição à hora do almoço. E no domingo de manhã fazemos sempre um passeio pelos jardins do Palácio. O ano tem sido bom para as camélias e elas agora estão verdadeiramente no auge.
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