Flor do sabão
Às plantas não chegou ainda o aviso de que o excesso de sal é maligno. A das fotos, embora também ocorra em meios não salgados, aprecia dunas embrionárias e mesmo areais junto à espuma do mar, vive coberta de sal e bebe muita água, da salgada, que guarda nas folhas cilíndricas e suculentas. Somos tentados a comentar que é por isso que esta herbácea é anual: tem uma vida curta em consequência do consumo desregrado de sal. Mas não é bem assim: ela tem vizinhas igualmente gulosas de sal que são perenes. Notem, porém, que as folhas têm uma ponta aguçada que lhe serve para se proteger de predadores, de que não sabe fugir, mas também para reduzir as perdas de humidade; além disso, os caules são penugentos, e esses apêndices fornecem zonas de sombra pequenas mas calmantes aos caules da planta. O aspecto geral dela é o de uma erva ramosa de cor verde-alface, com muitos espinhos, esticando-se até quase um metro a partir de uma moita basal. Os talos são estriados de vermelho, como os cálices das silenes de beira-mar, o que constitui talvez mais uma protecção das queimaduras do sol, como se supõe suceder com a pele das zebras.
É relativamente comum nos areais da costa atlântica, mar Báltico e mar do Norte, mas parece estar em regressão por não resistir ao pisoteio e ao uso intenso das praias na sua época de floração, de Julho a Outubro. As flores são minúsculas, nascendo em geral solitárias na base das folhas. Têm cinco pétalas amareladas e duas brácteas espessas e espinhosas a protegê-las de quem as queira comer. Desde tempos medievais e até ao século XIX, a barrilha foi não só abundante como muito útil a uma vasta indústria na Península Ibérica: das suas cinzas extraía-se carbonato de sódio com que se fazia soda e, com esta, vidro, sabão e lixívia, por um processo artesanal zelosamente mantido em segredo para salvaguardar os lucros obtidos com a exportação destes produtos. O nome latim salsola refere-se ao seu apetite pelo sal; kali deriva da palavra árabe, al-qali, para a soda.