05/12/2004

Árvores do Jardim do Carregal #4


Fotos: pva 0411 - Carregal - Sequioadendron giganteum com pormenor da folhagem

Já nem tenho vontade de falar
senão com árvores, vento,
estrelas e águas do mar.
E isso pela certeza de saber
que nem ouvem meu lamento
nem me podem responder.

Cecília Meireles


A algumas sequóias-gigantes têm consentido viver neste silêncio, nem inimigo nem irmão, por mais de mil anos. Nativa de Sierra Nevada, na Califórnia, região dos Estados Unidos com zonas áridas e verões quentes e secos, a Sequoiadendron giganteum, conífera da família Taxodiaceae e única espécie do seu género, retira sabiamente a humidade de que precisa da névoa em que a sua copa alta (que pode atingir os 100 metros de altura) mergulha em cada madrugada. É uma espécie monóica, competidora poderosa em florestas, elevando-se rapidamente acima das demais árvores para ganhar um maior quinhão de sol. Cultivada na Europa desde 1853, está presente em jardins portuenses desde 1860, mas não sem ter sofrido alguns percalços iniciais na sua adaptação ao nosso clima.

O exemplar do Jardim do Carregal tem cerca de 105 anos, 18.2 metros de altura e um PAP (perímetro do tronco à altura do peito) de 3.85 metros; como é típico nesta espécie, apresenta um tronco grosso na base, fibroso e avermelhado (daí o nome comum redwood), quase sem ramagem na parte inferior; a copa é cónica no topo, os ramos pendentes com extremos curvados para cima e lembrando, na forma, uma coroa. A folhagem é persistente, de cor verde-azulado (o que permite realçar a árvore nas fotografias), com escamas que espiralam nos ramos e os revestem completamente. Produz pinhas abundantes no fim do verão, mas não parece de boa saúde, resultado por certo da agressão a que inevitavelmente as obras do túnel do Carregal a têm submetido.

A sequóia-gigante mais famosa no Porto é ainda a do Jardim da Cordoaria, mencionada em várias crónicas e jornais de horticultura nos séculos XIX e XX. Mas o exemplar mais formoso é sem dúvida o de Serralves, com uns 60 anos de idade, que vegeta no bosquete em frente à casa rosa, junto à alameda de castanheiros-da-Índia.

Esperemos que, como corais, estes espécimes continuem por alguns séculos mais a contemplar-nos tranquilos e com rumo seguro.

Anteriores na mesma série: #1, #2, #3

1 comentário :

António Viriato disse...

Tenho dificuldade em destacar as virtudes deste blogue : se a qualidade da informação técnica, sempre exarada em muito bom português, se a beleza das fotografias, se a excelência dos textos aqui reproduzidos, alguns de autores menos conhecidos, mas não menos merecedores do nosso apreço, como estes singelos versos da Cecília Meireles, muito ligada a Portugal, na escrita e no sentimento.
Já passou a fazer parte dos meios passeios internéticos. Boa semana que se avizinha e continuada inspiração, para nossa geral fruição.