22/02/2006

Com um pezinho na água



Poucos são os géneros de folhosas que como o Salix (salgueiros) tantos usos permitem: por exemplo, além de geralmente muito ornamentais (destacando-se entre nós a chinesa S. babylonica, o chorão de galhos graciosos e pendentes tidos como o melhor dos vimes), a espécie S. alba produz a madeira macia e leve com que se fazem os tamancos ou os bastões de críquete, a boa cestaria muito deve à S. viminalis, e a S. cinerea é fonte de matéria prima para o carvão dos lápis. Em todas as espécies o ritidoma contém salicina, um alcalóide usado para fabricar ácido acetilsalicílico, o princípio activo da aspirina.

Reunindo mais de 300 espécies dióicas (cada planta tem exclusivamente flores femininas ou masculinas) nativas do hemisfério norte, este género destaca-se também pela diversidade de ecossistemas a que se adaptou, embora a maioria prefira solos húmidos de bosques ou zonas ribeirinhas - facto talvez relacionado com a vida curta das suas sementes que perdem cedo a sua capacidade de germinação. Assépalas e apétalas, as flores dispõem-se em amentilhos, sendo as masculinas as mais vistosas.

Disse Eugénio de Andrade (Palavras em Serrúbia, 2003): «Eis o que tenho a pedir-vos nos meus oitenta anos: plantem nesse lugar um plátano, onde o vento enroladinho no sono possa dormir sem sobressaltos; ou uma oliveira, ou um chorão, e à sua roda ponham uma sebe da flor doce e musical de espinheiro branco. Embora tenha pouca ou nenhuma fé seja no que for, a terra ficará mais habitável. Um poema ou uma árvore podem ainda salvar o mundo.»

Fotos: pva 0502 - salgueiros-pretos (Salix atrocinerea) em flor nas margens do rio Ave em Santo Tirso

1 comentário :

Anónimo disse...

Após ter vindo aqui várias vezes, não quero deixar de vos agradecer tanta informação sobre as árvores. Mas foi também amor por elas que eu aqui encontrei... e como sinto esse amor, coloquei no meu blogue um link direitinho para aqui!
Obrigado