Faia-das-ilhas
Myrica faya (Monte Brasil, Angra do Heroísmo)
A Myrica faya, conhecida como faia-das-ilhas ou samouco, é uma das espécies características da floresta laurissilva das ilhas atlânticas. Isoladas no meio do oceano, essas manchas de floresta perenifólia, por terem escapado à glaciação que atingiu as grandes massas continentais, são uma relíquia viva e única da era terciária. Mas, em contraste com o que sucede na Madeira, já quase nada sobra dessa floresta nos Açores. Uma das poucas espécies nativas que resistem nessas ilhas é precisamente a Myrica faya: vêmo-la, por exemplo, no Monte Brasil, sustentando acesa disputa territorial com as exóticas Pittosporum undulatum (falso-incenso), Populus alba (álamo) e Cryptomeria japonica. Emigrada por mão portuguesa para o Hawaii no final do século XIX, a Myrica faya confirmou a sua vocação guerreira, tendo-se aí tornado uma das piores espécies invasoras.
A faia-das-ilhas também se naturalizou em certas matas do centro e sul de Portugal - de tal modo que há dúvidas (como regista o livro Árvores de Portugal e da Europa, ed. Fapas) sobre se ela é ou não igualmente nativa do continente. O mais provável é que não seja, pois os nossos navegadores desconheciam esta pequena árvore (altura até 8 metros) quando com ela depararam nas ilhas. Chamaram-lhe faia, nada lhes importando que ela pouco se parecesse com a magnífica árvore que já tinha esse nome; e por isso uma das ilhas a que aportaram ficou sendo o Faial. (Numa inversão cómica, um dos fiáveis sítios da Internet que fala da árvore explica que o epíteto faya se deve à sua presença na ilha do Faial: é como dizer que o pinheiro foi assim baptizado por ter sido primeiramente avistado num pinhal; mas quem escreveu tal disparate tem a desculpa de não saber português.)
O género Myrica tem uma distribuição geográfica curiosamente dispersa: além da insular M. faya, conta com 7 espécies norte-americanas (uma delas, M. gale, presente também na Europa e na Ásia), outras 7 na África do Sul, e ainda duas espécies na Nova Caledónia e no Japão. A maioria dessas espécies, ao contrário da M. faya, prefere habitats húmidos e mesmo pantanosos (como a M. gale, chamada bog myrtle nos EUA).
5 comentários :
Em que sítio da internet é que se diz que Faya provém de faial?
LOL...
Olá. "Eu não sei como te chamas ó Maria Faia..." ;-)
Estou para aqui a cantarolar mas o que queria mandar é um palpite sobre a utilização do termo "faia" para designar espécies que não têm nada a ver com a "verdadeira" faia , do género Fagus.
Temos por exemplo e pelo menos os casos dos nomes vulgares de alguns choupos (o que se encontra também na toponímia) e também o do nome científico destas faias-das-ilhas.
Talvez isso se deva ao facto da palavra derivar de "fagea" que em latim antigo (de acordo com Jose Pedro Machado) tinha o significado abrangente de árvore e restrito de faia do género Fagus.
Como faias verdadeiras cá não havia nesses remotos tempos, presumo que em Portugal, esse termo terá transitado do latim antigo para a língua corrente apenas com o significado abrangente referido anteriormente. Assim quando as pessoas viam muitas árvores de que nao sabiam os nomes chamavam-lhes faias.
Enfim, é apenas uma hipótese pois não me debrucei a serio sobre o assunto, ou melhor dizendo não averiguei exaustivamente se alguém (nomeadamente José Leite de Vasconcelos, Carolina Michaelis e seguidores) já tentou explicar e a razão de ser dos diversos significados do termo faia.
Talvez o Ciberdúvidas nos possa esclarecer.
abraço
Andava eu á procura de informação desta espécie que nada tem a ver com a Fagus sylvatica e parei aqui no seu blogue, que muita informação me tem dado. contudo gostaria de saber se alguém me consegue esclarecer quanto ao significado do nome Myrica faya? Obrigada desde já.
O nome científico desta árvore, como o de qualquer outra planta ou animal, é composto por duas partes. Myrica indica o género em que a planta está incluída, e em que estão também todas as plantas suficientemente próximas dela. Plantas ou animais dentro do mesmo género podem frequentemente formar híbridos (por exemplo, de burro com égua: pertencem os dois ao género Equus).
O nome genérico Myrica, que vem do grego, foi primeiramente usado por Lineu para a Myrica gale, uma espécie arbustiva do hemisfério norte. Assim, a faia-das-ilhas chama-se Myrica simplesmente por estar aparentada com essa outra planta.
A segunda parte do nome, ou epíteto específico, neste caso faya, já pode reflectir alguma peculiaridade da planta. Neste caso provém dos nomes comuns faia ou faia-das-ilhas que lhe foram atribuídos pelos portugueses.
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