Dos jornais- "Um jardim em Loulé "
(Crónica de Miguel Ramalho no Expresso)
«Li, há dias, no "Público", que o antigo jardim de Charles Bonnet, em Loulé, ia dar lugar a uma urbanização e que, de acordo com a declaração do presidente da câmara, para "compatibilizar o interesse público com o privado", foram exigidos duzentos lugares de estacionamento público na cave do edifício. Resta dizer que a decisão de eliminar o jardim foi tomada por unanimidade.
Bonnet foi um dos pioneiros da Geologia portuguesa, tendo desenvolvido estudos geológicos, geográficos e biológicos, em especial na região algarvia, tendo-se radicado depois desse trabalho em Loulé, onde casou e morreu no final do século XIX. Na sua propriedade, criou um jardim botânico, o qual, nestas últimas décadas, esteve votado ao abandono.
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Então, as vilas e cidades do Algarve não estão repletas daqueles inúteis jardins? E Loulé não está tão cheio de espaços verdes que as pessoas se perdem lá mais facilmente que na Amazónia, além de ter, a dois passos, o Estádio do Euro 2004, e que está sempre a abarrotar de público a gozar o seu utilíssimo relvado? E ainda queriam mais verde? Era o que faltava! A câmara decidiu assim, sabiamente, ao optar por uma urbanização - que até talvez se venha chamar Jardim de Bonnet Residence - tão raras no Algarve, e que tanta falta lhe fazem...
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Embora este seja um caso aparentemente banal no nosso país, em que valores patrimoniais únicos não são considerados importantes face ao imobiliário, constitui, no entanto, um indiscutível sintoma de falta de sensibilidade e de cultura que ainda grassa por entre aqueles que têm o poder de decidir e de influenciar a nossa qualidade de vida, que, frequentemente, não têm preparação para isso.
Tenho verificado que, felizmente, há cada vez mais autarcas que se preocupam com este tipo de problemas. Pergunto-me, no entanto, como é possível hoje, na Europa do século XXI, e numa região gravemente atingida pela massificação imobiliária e que aspira, dizem eles (...), a um turismo de qualidade, ainda existirem autarcas que votam, por unanimidade, a troca de um jardim histórico por lugares de estacionamento? Espero, ao menos, que um dia venham a ter vergonha do que fizeram.»
Ler texto completo (no Expresso)
Segundo as notícias a destruição do jardim e das espécies parece que já se consumou :
«Ambientalistas denunciam arranque de árvores para construir estacionamento
A associação ambientalista Almargem denunciou hoje o arranque, nos últimos dias, de dezenas de árvores e várias espécies de arbustos do chamado Jardim do Boné, para construir um parque de estacionamento "e mais uns quantos lotes de apartamentos". (12-07-05)»
ler notícia (in rtp.pt)
Almargem contra destruição do jardim de Charles Bonnet (no Jornal do Algarve)
(obrigada pela chamada de atenção ao desNORTE)
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Adendas:
1- Em 14 de Julho, Pedro A.Vieira no Estrago da Nação já tinha lançado a sua Farpa Verde escrevendo: «Viva a memória, viva este país vergado ao betão e ao automóvel e que arrasa tudo o que tenha uma corzita verde. Eis o paradigma do século XXI da República de Portugal e dos Algarves. Um dia destes algum autarca ainda há-de lembrar-se de construir um "arvoreto".»
2- Destruído jardim de Charles Bonnet em Loulé [actualizado] (no Contrasenso em 18 de Julho)
3- Reconhecimento póstumo (no Raízes a 19 de Julho)
4 comentários :
Não encontrando o vosso email neste espaçp (?), indico deste modo a referência elogiosa que é feita ao vosso blog no do Prof Rogério Santos 'Indústrias Culturais'.
MJR
Lendo o atigo sobre o Jardim em Loulé que vai ser destruído, questiono-me:
Então e a População fica ,mais uma vez, de braços cruzados?
Mas que Povo é este que vota em energúmenos e que não se opõe a nada?
Temos de mudar de Políticos ou de Povo?
Luis Lopes, já o Bordalo Pinheiro falava nisso há muitos anos atrás. Pelo que percebi é o povo que tem de passar de se portar como Povinho e passar a portar-se como Povo.
Às vezes parece que este país vai ser demolido brevemente e por isso vale tudo. É para demolir e é...
Cara MJR- o nosso mail encontra-se no canto superior direito da página.
Muito obrigada pelo interesse, a sério... Mas permita-me aproveitar a oportunidade para exprimir a minha opinião pessoalíssima relativamente a este tipo de "ranking", por mais "elogiosas" que sejam a referências: sou completamente avessa a estas tabelas, sobretudo quando parecem mais não exprimir do que o gosto pessoal de quem as elabora. Neste caso específico e "malgré" a boa vontade da autora os parâmetros da avaliação até estão errados no que diz respeito ao nosso blog: na periodicicidade, e na categoria (versamos fundamentalmente a botânica- textos literários e informativos sobre botânica, principalmente árvores, sendo as fotografias, sobre o tema, da nossa própria autoria).
Aliás a ideia de que tal classificação é inovadora e séria no sentido de que é objectiva também não é muito correcto: no campo das chamadas ciências documentais, ou para usar uma denominação mas consentânea com a evolução do conceito de documento, no campo da ciência de informação a classificação/avaliação de sites, páginas (e blogues) é algo que se faz já há muito tempo (alguns links sobre avaliação de sites podem ser consultados no blogue de apoio ao boletim electrónico da biblioteca de que sou cordenadora )
Posso parecer arrogante e mal-agradecida mas isso é decorrente da irritação que me causam estas classificações, pela sua incompletude (e neste caso há a tb o facto de apesar de ou talvez por o nosso blogue estar entre "alguns monstros sagrados" sentir sobretudo falta da companhia dos meus amigos -na lista só lá aparecem dois dos meus blogues preferidos...)
Depois deste desabafo resta-me agradecer mais uma vez o interesse e a referência (e frisar que esta é a minha opinião pessoalíssima. Não faço ideia o que pensam os meus co-editores do Dias...)
Cordialmente
Manuela
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