02/05/2006

O novo pinhal do avô Júlio



Fotos de Augusto Ferreira

Eis como começa a notável reportagem de Carla Maia de Almeida publicada com o título Os plátanos também se abatem na mais recente edição (30 de Abril) do Notícias Magazine:

«Este Verão vão faltar sombras no jardim central de Pinhal Novo. Uma fúria serradora abateu-se sobre os plátanos, deixando-os irreconhecíveis, uns troncos com meia dúzia de ramos em forma de garra, ou menos do que isso. Talvez ficassem bem nos cenários assombrados de Tim Burton, mas a vida é outra coisa, quem sabe. As poucas pessoas que, num domingo à tarde, gozam o sol ainda cerimonioso da Primavera, procuram os cantos mais abrigados por arbustos, alentando conversas espaçadas, enquanto os bancos de pedra permanecem vazios, inóspitos, como tudo o resto.

O pinheiro manso, símbolo da vila, é agora a árvore que governa o recinto, onde cabem também a igreja, o coreto, o parque infantil e, cruzada a rua, a estação de caminho-de-ferro. É uma das saídas possíveis. Este Verão, quando o jardim se transformar numa eira de calor, vão ser muitos os desertores do Pinhal Novo, sôfregos por um vento de praia ou pelo fresco artificial dos centros comerciais, agora pomposamente chamados de fóruns. Visto da estrada, o anúncio, quase comovedor, diz que é no Fórum Montijo que «o avô Júlio vai passar as tardes de domingo com a neta». Os jardins estão fora de moda, não há dúvida. A avaliar pelo estacionamento ao ar livre, gigantesco, a abarrotar de automóveis, é nestes parques de cimento que maioria dos «avôs Júlios» e família prefere passar uma tarde soalheira de Primavera.»


Além deste doloroso começo, a reportagem inclui declarações muito pertinentes de Ana Júlia Francisco e Maria Domingas, ambas da Sociedade Portuguesa de Arboricultura, e é ilustrada com belas fotos de árvores (não podadas) nos jardins públicos de Lisboa e Porto; texto completo aqui ( 1,4 MB - pdf). (Ah, é verdade: nela também se fala de nós.)

Publicado também no Dias sem árvores

8 comentários :

Anónimo disse...

Mas em Pinhal Novo lá têm o seu lema de circunstância (e bem conseguido): Mais Pinheiros, Mais Verde, Mais Pinhal Novo.
Quem se preocupa em plantar «mais 90 pinheiros mansos (a somar aos 400 dos anos anteriores)» mas poda radicalmente estes plátanos por causa das alergias dos poléns, não percebe nada de nada de fontes polínicas...

Anónimo disse...

Boa reportagem, Carla,
boa iniciativa caros bloguers "Dias Com Árvores",
gostava eu de fazer alguma coisa pelas árvores nas cidades...
já penso nisto desde que entrevistei o cirurgião de árvores de Serralves que me alertou para o que já pressentia: as podas radicais estão a destruir as árvores das nossas cidades (e campos).
Não podemos fazer nada?
Que tal lançar uma recolha de assinaturas que alerte os serviços camarários de todo o país para darem boa formação aos seus jardineiros?
Uma formação diferente desta que parece feita com filmes de terror de serra eléctrica em punho...
Façamos barulho, pelas árvores e pelo nosso futuro, com árvores.
Lutar, é preciso!

Anónimo disse...

Eu não percebo .. vejo isto em todo o lado e até duvido, no meu pouco conhecimento dos processos, se sou eu que estou tolinha ou "eles" são irresponsáveis. E quem são "eles"? Tenho fotos assim (ilha de S. Miguel há 1 semana) e eu triste, abalada. O que tem a ver uma árvore plantada na semana passada com outra com 200 anos, ou com 30? Amigos, que fazer? EP

Anónimo disse...

Em todas as cidades, em todas as vilas, em todas as ruas, em todas as avenidas, em todas as estradas, logo que haja árvores, eles podam tudo, e não deixam nada.
Em Braga, na zona da Sé, chegou-se ao cúmulo de tapar os enormes buracos dos troncos precocemente envelhecidos com cimento. Sim, com cimento!
Zé Batista, Braga.

Nuno disse...

Sempre tive o mesmo pesadelo nas cidades onde vivi, homens de moto-serra com acelerador a fundo, como não percebo nada da poda (aqui sim pode-se usar esta expressão correctamente!) alguém me sabe dizer a razão destes cortes e seus benefícios?

Maria Carvalho disse...

Não há razão que justifique as podas radicais nem há benefícios a registar: são actos confessos de maldade, ignorância e falta de bom senso.

RPM disse...

aqui onde vivo, Praia da Vitória, Terceira, Açores, e na escola onde sou professor estas podas extremistas também são uma constante...

chegamos ao pino do verão e, nem sombra, nem folhas nem ninhos de pássaros.....

é uma moda PORTUGUESA, com certeza....

os 'quadrúpedes' dos artistas bípedes é que deveriam ter as pernas cortadas radicalmente e, aí veriam o mal que fazem às árvores....

outra explicação é, tornarem o plátano em BONSAI's. Será???

RPM

Anónimo disse...

"A árvore não dever ter culpa de todas as alergias"