Carvalho-cerquinho
Quercus faginea subsp. broteroi
Para quem vive no litoral norte do país, um dos atractivos da Serra dos Candeeiros é a presença do cerquinho, um carvalho que por cá é impossível de encontrar mesmo em jardins botânicos. Na colecção Árvores e Florestas de Portugal, distribuída em 2007 com o jornal Público, chamam-lhe carvalho-português (apesar de ele aparecer também em Espanha e no norte de África) e ocupam com ele boa parte do volume 2, dedicado aos nossos carvalhais. Ficamos a saber que a sua área de distribuição no nosso país, se bem que por um motivo ou outro tenha vindo a diminuir gradualmente ao longos dos séculos, sofreu entre 1972 e 1995 uma brusca redução de 50%. De então para cá não se conhecem dados, mas os piro-verões e outros factores naturais ou humanos deixam poucos motivos para optimismo. As florestas de carvalho-português não deverão, em Portugal, ultrapassar os mil hectares de área total - oitocentas vezes menos do que as matas de eucalipto (Eucalyptus globulus).
É no litoral centro, e sobretudo nos distritos de Leiria e de Coimbra, que se encontram as maiores populações nacionais de carvalho-cerquinho. O livro refere ainda a ocorrência de um importantíssimo núcleo da espécie na mata do Solitário, na Serra da Arrábida. Vemo-lo, na Serra dos Candeeiros, marginando estradas e junto a casas e campos de cultivo. No circuito que fizemos, em redor da aldeia do Arrimal, forma pequenas matas até meia-encosta, desaparecendo por completo nas partes mais altas, onde prevalece a vegetação rasteira de alecrim, tomilho e roselha, e sobrevivem a custo, no terreno descarnado e ventoso, algumas heróicas oliveiras. O bonito carvalho-cerquinho da foto (ou será um par deles?), ensombrando uma casa rústica com vista para um olival, foi o nosso prémio por nos termos enganado no percurso. De olhos escrutinando as plantinhas que despontavam rentes ao chão, por certo nos passou despercebido algum desvio, ainda que tivéssemos acertado no rumo geral de regresso à estrada (sempre a descer).
O carvalho-cerquinho, árvore de porte médio, estabelece um compromisso entre o possante carvalho-alvarinho (Quercus robur), de folha caduca, predominante no norte do país, e os grandes carvalhos de folha perene (sobreiro e azinheira) característicos dos montados do sul. Embora as suas folhas sequem no Outono, só as deixa cair no ano seguinte, quando se cobre de folhagem nova; por isso se diz marcescente. Essa mesma estratégia para proteger do frio os gomos das folhas que irão rebentar na Primavera é adoptada pelo carvalho-negral (Q. pyrenaica).
4 comentários :
Há uma razão ponderosa para o nome "carvalho-português" ser preferível ao de "carvalho-cerquinho": é que a denominação "cerquinho" aplica-se também a outros carvalhos caducifólios, incluindo o roble e, sobretudo, o negral.
Por exemplo, numa larga faixa que se estende do norte do distrito de Aveiro até ao elevado planalto beirão (Moimenta da Beira, etc.), para toda a gente "carvalho-cerquinho" ou "c.-cerqueiro" é o Q. pyrenaica.
Quanto ao facto de o Q. faginea se estender por outros países (2) não implica que não se possa denominar "português". Há, por exemplo, uma subespécie que é exclusivamente portuguesa (ssp. broteroi) e realmente é uma espécie característica do quadrante SO da Península.
Aliás, o facto de o Q. robur se estender do Cabo da Roca à Rússia, sendo provavelmente o mais abundante carvalho na Europa, não impede os ingleses de lhe chamar "english oak"...
Abraço
p. faúlha
Sem querer entrar a decididir como é que vocês querem chamar aos querqus. Queria dizer que na Galiza também é carvalho cerquinho ou cerqueiro o nome dado para o Q.pirenaica; na zona oriental denominam-no rebolo.
O Q. faginea é raro, só ouvi carvalho-virinho para ele.
Saudos.
Parabens pelo Blog, acho de muito interesse.
E nom só popularmente, carvalho-cerquinho é o comum na língua culta galega para Quercus pyrenaica, e também rebolo. Popularmente denomina-se carvalho-negral e carvalho-cerqueiro mas nom se vem nos livros estas formas. A seleccçom dos nomes parece ser um pouco diferente. Quercus faginea é raro na Galiza.
Obrigado polo blog
Olá, estava eu aqui entretido a ler posto do blogue antigos, e dou de carass com este sobre o cerquinho. Gostaria de complementar com algo que recentemente descobri, na quinta da Fonteireira em Belas, possui um Cercal de dezenas de árvores julgo que centenárias, com um sub-bosque degradado, mas com ainda algumas árvores perenifólias sobreviventes. Destaque mesmo para estes gigantescos casrvalhos-cerquinhos, como nunca havia visto... Vale a pena visitá-los...
Forte abraço... De Rui Faria
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