25/02/2010

As orquídeas acordaram

Barlia robertiana (Loisel.) W. Greuter


As orquídeas europeias são plantas vivazes, capazes de durarem muitos anos, florindo anualmente se as condições forem favoráveis. Contudo, cada pé fica pouco tempo à superfície, florescendo e frutificando em poucas semanas, optando por prosseguir o seu ciclo anual protegido no subsolo.

Algumas espécies escondem-se 7 meses seguidos. Outras produzem uma roseta de folhas no Outono, alimentadas por um tubérculo subterrâneo, e mantêm-se à vista durante todo o Inverno. Se a estação for de frio intenso, estas primeiras folhas até se estragam, mas isso não é grave porque entretanto um segundo tubérculo começa a formar-se no subsolo — um farnel precioso para futuras aventuras. Como ainda não é necessário, desenvolve-se com vagar e só em Fevereiro-Abril está pronto a servir. E nesta altura é essencial: a inflorescência está a nascer e os nutrientes do tubérculo de Inverno estão quase esgotados.

Depois das flores, em breve teremos os frutos com as milhares as sementes minúsculas (de uns 0,5 mm de diâmetro; em comparação, um grão de arroz é colossal) que a mais leve brisa dissemina. Todavia, nem todas elas germinam — e ainda bem, senão as descendentes de uma única orquídea cobririam todo o planeta em meia dúzia de gerações —, pois precisam de solo apropriado e dependem, nesta fase, de um fungo microscópico que penetra na semente, infecta parcialmente o embrião sem o destruir (há por ali fungicida que baste para impedir tal desaire) e produz açúcares que alimentam a componente saudável. Esta cresce rapidamente, transformando-se num bolbo que contém as instruções de montagem duma plantinha nova. Que pode levar de dois a quinze anos até florir pela primeira vez.

Mas voltemos à planta-mãe. Estamos no fim da Primavera e, passada a frutificação, as folhas e flores murcharam. Cabe agora ao segundo tubérculo a tarefa mais importante: endireitar-se, para lançar as primeiras folhas, as que emergirão no próximo Outono.

A orquídea peralta das fotos cumpre um ciclo semelhante a este, e é das primeiras a florir. Precisa de solo alcalino em espaço aberto e com pouca vegetação. A inflorescência é densa, com flores em cacho e perfume de íris, e pode chegar aos 70 cm de altura. Encontra-se em toda a bacia mediterrânica mas é considerada algo rara — embora não em Ansião, onde vimos há poucos dias dezenas de pés em flor.

2 comentários :

Unknown disse...

Viva Maria Carvalho!

Não nos cansamos de ver estas flores lindas e de saber mais sobre elas. Afinal as orquídeas , na escala evolutiva, são das flores mais recentes do Planeta, não é assim? Há cerca de 200 000espécies que povoam os mais diversos recantos deste Planeta.E as suas sementes são das mais minúsculas que há.E quando se fala em orquídeas, lembro a Baunilha que esteve em vias de extinção porque o insecto seu polinizador
(melipone), que só existe no México, não se adaptou a mais nenhum sítio ... Até que um jovem jardineiro inventou um método artificial de fecundação.
Um abraço e... até sempre!
Li

Maria Carvalho disse...

Olá. As orquídeas são recentes, sim, mas não tanto como se chegou a pensar porque o esquema de polinização esperto que desenvolveram precisou de tempo para atingir o nível de sofisticação que presenciamos hoje.