Mansos de Ansião
Abandonada a A1 na saída para Pombal e percorridos breves quilómetros, quase julgamos ter entrado noutro país. Ansião e os municípios vizinhos (Penela, Alvaiázere, Pombal e Soure) prenunciam a paisagem dominante do maciço calcário estremenho, que começa mais a sul, em Leiria, e se prolonga pelo Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Bosques de carvalho-cerquinho (Quercus faginea), ainda com a última folhagem seca a desprender-se dos galhos, alternam à beira da estrada com azinhais indiferentes ao frio cortante de Janeiro. Uma ondulação mansa, onde sobressaem meia-dúzia de elevações de escassa altitude a que as populações locais chamam serras, proporciona os meandros e desníveis essenciais à diversidade do panorama. Lá nos cumes, aonde se pode chegar por estradões nem sempre asfaltados, há moinhos velhos e ventoinhas novas; e, entre afloramentos calcários, irrompe uma vegetação rasteira de tomilho e carrasco feita de encomenda para abrigar orquídeas.
Como tantas vilas ou cidades portuguesas, Ansião não se distingue pelos seus monumentos nem pela singularidade arquitectónica, e só mesmo o turismo de natureza pode trazer um forasteiro a estas paragens. Mas aí o concelho joga forte, e da nossa parte já marcámos bilhete de regresso, em Março e Abril, para caçarmos orquídeas — deixando-as contudo nos exactos locais onde as detectarmos — e conhecermos melhor os carvalhais que nos namoram da estrada.
Na sede do concelho, junto ao novo posto de turismo, ficamos de olho no olho d'água do Nabão e no esmerado arranjo da envolvente. Os terrenos calcários são comprovadamente porosos, e o leito de pedras lisas por onde deveria deslizar o Nabão só no Inverno costumava ser visitado pelas águas. No resto do ano, o rio prosseguia uma sigilosa existência subterrânea. Para obstar a este esconde-esconde, a Câmara fez instalar um motor de água oculto por discreta construção cilíndrica. Agora, pelo menos ali, há rio durante o ano inteiro.
E, lá para trás, há os pinheiros-mansos da Mata Municipal que nos acenam de longe, com os troncos altos dando testemunho dos séculos já vividos. A mata pouco mais terá que um hectare, mas esta dezena de pinheiros altivos, a que se juntam carvalhos-cerquinhos e carvalhos-negrais (os únicos que vimos por estas paragens), faz dela uma jóia inestimável.
Pinus pinea L. — Mata Municipal de Ansião
1 comentário :
Caí aqui, por via do Cidade Surpreendente, e fiquei maravilhado.
Excelente trabalho.
A seguir com atenção.
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