Pombinhas na praia
Corrigiola littoralis L.
Talvez em nenhum outro país do mundo haja tantas dinastias de pechisbeque como em Portugal. Em cada uma das nossas famílias proeminentes, há aqueles que granjearam fama ou prestígio, e os outros que herdam o lustro sem nada fazerem por merecê-lo. E tal fulgor baço, em segunda mão, é suficiente para garantir uma existência confortável a esses satélites desprovidos de qualidades luminescentes. Aquele que, não sendo ele próprio ilustre, é — conforme atestam os seus sobrenomes — filho, irmão, neto ou sobrinho de «alguém», tem, para seu proveito pecuniário, lugar garantido nos conselhos de administração, e, como caução cultural, direito a destaque nos escaparates para os seus medíocres livros.
No mundo das plantas pode não haver vantagens apreciáveis em se pertencer a uma família de pergaminhos ilustres. Consideremos o caso da família Caryophyllaceae: deu-nos os cravos da revolução (género Dianthus); encanta-nos com as silenes que, nas praias ou nos montes, são das plantas mais atraentes da nossa flora espontânea; e ainda, benfazeja, nos incita à higiene com a erva-saboeira. Há, porém, membros da família de que nem notamos a existência, e que até podemos pisar sem dar por isso. Aos olhos de uma formiga, tivesse ela vagar para tais contemplações, as flores da correjola, brancas e tingidas de rubro, devem ser das mais formosas que existem. Mas nós, por nem sempre andarmos de gatas com uma lupa na mão, não lhes damos grande valor. Uma florinha de 2 mm não é coisa que deslumbre a nossa vista desarmada.
A Corrigiola littoralis, conhecida também como erva-pombinha, é, como o nome científico sugere, uma planta das dunas do litoral, mas também aparece longe da costa em altitudes que podem ultrapassar os 1000 m. Tão discreta ela é que se torna difícil dizer se ocorre ou não frequentemente no nosso país. É, em qualquer caso, muito fácil de detectar no Parque das Dunas da Aguda, em Gaia, onde até lhe puseram placa identificativa.
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