21/12/2010

Goivo duriense

Erysimum linifolium (Pourr. ex Pers.) J. Gay


As obras de remodelação urbana que viraram o Porto do avesso em 2001 também devastaram sombras e jardins. Na avenida de Montevideu, à beira-mar, substituíram os goivos perfumados (Erysimum cheiri (L.) Crantz) por conchas, um adorno deplorável e monocromático de duvidoso benefício para os metrosíderos. Das valvas, cujo calcário os goiveiros teriam agradecido, não resta sequer o pó escuro em que se transformaram nos primeiros anos de exposição. E as flores não regressaram, nem há, como antes, aroma para temperar a maresia. Foi por isso duplamente agradável verificar que a classificação do Douro como património mundial ainda não varreu dos taludes os goivos silvestres.

O E. linifolium é um endemismo ibérico, retringindo-se ao norte de Portugal e ao centro de Espanha (em Portugal apenas ocorrem três goivos espontâneos, e só este no Douro). É uma planta perene de base lenhosa, caules altos e folhas lineares (3-12 cm), de margens inteiras e cor verde-cinza; contudo, as populações de areais costeiros exibem adaptações naturais a este habitat, como caules curtos, flores maiores e frutos mais pequenos. As flores de quatro pétalas lilases em cruz (2 cm), num conjunto saciforme com anteras verdes, dispõem-se em racimos corimbosos, exibindo-se entre Março e Julho, com um pico em Abril. A polinização está entregue a abelhas e o fruto é uma vagem estreita com muitas sementes.

A enciclopédia da Royal Horticultural Society dá conta de cultivares do E. linifolium, alguns de flores duplas, bicolores ou da cor da lua, todos eles desconhecidos nos jardins da sua pátria de origem. Não são flores-de-parede, como lhes chamam os ingleses, mas herbáceas de canteiro — rodriguinho que foi por aqui esconjurado.