O cromo que faltava
Com este texto completamos a colecção das cilas nortenhas, uma das mais atribuladas que alguma vez iniciámos. Várias vezes nos gabámos publicamente de possuir cromos raros e cobiçados que afinal padeciam de erro de legendagem. Fomos dando a mão à palmatória até ela ficar dorida de tanta pancada. Em resumo: o género Scilla, no norte de Portugal, é representado pela S. monophyllos, fácil de distinguir pela sua folha solitária; pela frágil e outonal S. autumnalis; e por duas espécies primaveris com várias folhas, todas lineares, a S. ramburei e esta S. verna. A confusão advém da existência de uma planta igualmente multifoliada que parece Scilla mas não é, a Hyacinthoides paivae, muito mais comum do que as outras duas no Minho e no Douro Litoral. O principal carácter distintivo é que as plantas do género Hyacinthoides têm duas brácteas na base de cada pedúnculo floral; as do género Scilla têm uma só bráctea ou mesmo nenhuma (como sucede com a S. autumnalis).
Uma vez resolvida essa dúvida, a S. verna tem personalidade suficiente para ser de fácil identificação. As suas flores são de um azul pálido, quase branco, com tépalas largas, e aparecem dispostas em corimbo; as flores da S. ramburei dispõem-se em espiga e têm tépalas estreitas, mais escuras e arroxeadas. Em regra, a S. verna é menos robusta do que a S. ramburei.
Ao contrário da S. ramburei, que seria endemismo ibérico não fosse ocorrer também em Marrocos, a S. verna tem ampla distribuição europeia, abrangendo a Noruega, Grã-Bretanha, Irlanda, França e Portugal. Por cá, ela está restrita à metade norte do território, onde prefere prados de montanha, mas noutras latitudes é comum encontrá-la em charnecas à beira-mar.