Teesdaliopsis conferta (Lag.) Rothm.
Apesar das várias visitas que fizémos no ano passado à serra da Estrela, e de então termos visto uns tantos exemplares desta planta num dos passeios sabiamente guiados pelo
CISE, houve que esperar pela Primavera deste ano para se fotografarem as flores. É por isso que só agora a colocamos esta raridade na montra: é um endemismo do noroeste da Península Ibérica e, por cá, só há registo dela na serra da Estrela, acima dos 1500 m. Em Espanha ocorre no norte, na Cordilheira Cantábrica e nos Montes de Léon.
Na nossa primeira ida à serra este ano, procurámos, guiados pela memória (e pelo GPS), o núcleo que tínhamos visto no ano anterior a uns 200 metros da estrada. E lá estavam elas, com as rosetas densas (
conferta) de folhas (todas basais) glaucas e glabras, desta vez floridas e em grande número. Julgámos que, com o alargamento das estradas, esta população seria a mais próxima, mas, na verdade, a espécie parece estar a recuperar das obras e a (re)colonizar outros sítios secos e pedregosos, com substrato silicioso. E a boa notícia é que as plantas que encontrámos na berma da estrada são vigorosas e fáceis de detectar.
É, porém, possível que, quando o leitor a for ver, ela já tenha mudado de nome. A designação actualmente aceite é a que Rothmaler (1908-1962) lhe atribuiu em 1940, embora a palavra
Teesdaliopsis (que alude à semelhança —
opsis — com as plantas do género
Teesdalia) tenha sido proposta por Willkomm (1821-1895) em 1880, e a primeira citação da planta seja do botânico espanhol Mariano Lagasca y Segura (1776-1839), que, em 1805, a designou
Iberis conferta. Os anais registam outras tentativas de a baptizar:
Iberis radicans Lag. ex Nyman, em 1878;
Iberis glauca Lag. ex Willk. & Lange, em 1880; e, mais recentemente, em 1998,
Teesdalia conferta (Lag.) O. Appel. Esta última proposta, publicada na revista
Novon do Missouri Botanical Garden, merecerá, por ser tão fresca, um debate mais apurado.
Os apoiantes da nomenclatura actual enfatizam que as espécies de
Teesdalia são anuais, enquanto que a planta das fotos é perene; além disso, chamam a atenção para o facto de no género
Teesdalia haver dois óvulos por cada lóculo (e quatro sementes por cada fruto), enquanto que esta planta tem apenas um (logo só duas sementes por cada fruto). Mas o autor do artigo, Oliver Apple, sublinha que estas são diferenças menores face a alguns aspectos morfológicos cuja coexistência é rara na família Cruciferae e que, curiosamente, são comuns a esta planta e a uma ou a ambas as espécies do género
Teesdalia. Em particular, Appel refere que as flores, agrupadas em racimos terminais, têm quatro pétalas de dois tamanhos (as externas maiores), tal como a europeia
Teesdalia nudicaulis, e que os frutos são alados. Sugere, por isso, que o género
Teesdalia passe a abrigar três espécies, entre elas o endemismo ibérico
Teesdalia conferta.
Mas a história haveria de ter um novo episódio. Descobriu-se em 2008 (veja as páginas 1357 e 1358 da revista
Taxon, volume 57, fascículo de Novembro desse ano) que, seis meses antes de
Teesdalia, tinha sido proposta a designação genérica
Guepinia para a mesma
Iberis nudicaulis L. (agora
Teesdalia nudicaulis). Ora, segundo o artigo 11.3 do ICBN (Código Internacional de Nomenclatura Botânica), isso quer dizer que
Guepinia tem prioridade relativamente a
Teesdalia, e deveria ser esse o nome utilizado. Mas, oh desgraça, o mesmo código contém outro artigo, o 15.2, que impede a palavra
Guepinia de ser aqui usada: é que ela passou entretanto a nomear certos fungos, e
a emenda seria pior que o soneto. Houve quem, como recurso desesperado, e aproveitando a deixa de Oliver Appel, sugerisse que se legitimasse o nome
Teesdaliopsis para as três espécies de
Teesdalia: ficaríamos assim com um nome que aludiria à parecença destas plantas... consigo mesmas. Contaram-se argumentos de um lado e de outro, duzentas citações para
Teesdalia, menos de dez para
Guepinia, e assim, de momento, vence
Teesdalia (género que os espanhóis designam incompreensivelmente por
pan y queso).