01/05/2020

Goivo das alturas



Erysimum scoparium (Brouss. ex Willd.) Wettst.


O pico do Teide, visto à distância, aparenta ser um deserto pedregoso; mas, como já aqui explicámos a propósito da violeta, do taginaste vermelho e de outras coisas mais, essa impressão é desmentida por plantas de vocação alpina que vão pintalgando as encostas de cores variadas. À lista acrescentamos hoje uma crucífera a que podemos chamar goivo-do-Teide, já que goivo é o nome habitualmente dado às espécies do género Erysimum.

A Macaronésia está moderamente bem servida no que a goivos diz respeito, com três dos quatro arquipélagos (só os Açores ficam de fora) detendo cada um deles a sua quota-parte de espécies endémicas de Erysimum. Há duas no arquipélago da Madeira (E. arbuscula no Porto Santo e E. maderense na ilha da Madeira), duas nas Canárias (E. scoparium, presente em Tenerife e La Palma, e E. albescens, na Grã-Canária), uma que ocorre nesses dois arquipélagos (E. bicolor, abaixo retratado), e finalmente uma em Cabo Verde (E. caboverdeanum, na ilha do Fogo).

Com a autoridade de quem já apreciou a maioria destes goivos no seu habitat, achamo-nos capazes de sobre eles emitir juízos de valor mais ou menos taxativos. A medalha de ouro de mérito ornamental continua bem entregue ao porto-santense E. arbuscula, mas a medalha de prata vai, com inteira justiça, para o tenerifenho E. scoparium, que combina uma folhagem glauca e sedosa com hastes erectas floridas de branco e lilás. O terceiro lugar do pódio mantém-se em disputa, não sendo de excluir atribuí-lo ao E. bicolor, que no auge da floração faz melhor figura do que aquela que deixam supor as imagens aí em baixo (obtidas em Dezembro na Grã-Canária).

Tanto no goivo-do-Teide como no goivo-da-serra (nome dado na Madeira ao E. bicolor) as flores nascem brancas e vão gradualmente mudando para lilás. Desabrocham à medida que a haste se desenvolve, fazendo com que em cima estejam sempre as flores brancas. O goivo-da-serra tem contudo um aspecto mais difuso, mais ramificado, com hastes menos erectas e inflorescência mais lassa. A folhagem é verde (não glauca), pouco ou nada tomentosa, e as folhas, além de mais largas e compridas, têm as margens esparsamente dentadas.

O porte elegante do goivo-do-Teide é ainda reforçado por ter como cenário de fundo o pico mais alto do Atlântico. Porque é ao longe que a montanha melhor se vê, não lhe faz falta subir ao cume, 3700 metros acima do nível do mar. Florir a 2700 metros de altitude, como nós o vimos no topo da Montanha Branca, já é um feito invejável.


Erysimum bicolor (Hornem.) DC.

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