Limónios da ilha dos Lobos
A nordeste de Fuerteventura, a cerca de 2km de distância, pode avistar-se uma ilhota arredondada que actualmente não tem habitantes permanentes. Já os teve, a maioria deles pescadores e respectivas famílias, que competiam pela apanha do peixe e moluscos com uma população muito numerosa de lobos-marinhos (de nome científico Monachus monachus). Além de comerem bastante (os adultos medem cerca de 3 metros e pesam uns 300 quilos), estas focas dóceis gostam de dormir em sossego e de relaxar ao sol em praias remotas, sem intrusos nem ruído. E precisam de grutas não perturbadas para cuidar das crias, em locais muitas vezes assolados por ventanias e ondas de mar agitado. Juntemos a este começo de vida rodeado de perigos o apreço durante séculos pela pele, carne e gordura destas focas, e não nos surpreendemos com o resultado desta disputa de terreno, bens e alimentos entre humanos e focas: na ilha dos Lobos não resta hoje nenhum lobo-marinho. A população desta espécie no Atlântico, que se distribuía pelas costas do Norte de África e arquipélagos da Madeira, Canárias e Açores, conta agora com apenas duas colónias, uma delas na Madeira, com não mais do que 120 focas no total. E a população mundial da foca-monge não augura nada de bom: só tem núcleos pequenos e muito distantes entre si, todos em declínio.
Não fomos, portanto, à ilha dos Lobos para ver os lobos-marinhos. A razão foi outra: nas lagoas do interior da ilha vive a única população conhecida deste endemismo canariense.
O impacto de visitantes à ilha dos Lobos é hoje controlado. O acesso faz-se de barco (alguns de fundo transparente) a partir do porto de Corralejo, em Fuerteventura, e há um limite diário de visitantes. Cada um recebe dois bilhetes numerados (de cores distintas, para se reduzirem os enganos), um dos quais deve ser entregue à chegada à ilha e outro à saída; deste modo, os vigilantes sabem quantos turistas estão em cada momento na ilha e garantem que nenhum fica a pernoitar nela sem licença. Os trilhos são extensos, mas somos recordados a cada passo da proibição de sairmos deles ou de fazermos demasiado ruído. E, claro, há locais de acesso vedado, especialmente em períodos de nidificação de aves.
As Canárias são abrigo de cerca de 20 espécies endémicas de Limonium, quase todas raras e ameaçadas pela destruição do habitat e pela colheita das flores — que, além de serem vistosas (de cálice azul-violeta e corola brancas ou rosa), se mantêm bonitas por muito tempo depois de secas. O L. bollei, que aprecia arribas, areias e sapais junto ao mar, floresce entre Março e Setembro, e a haste floral tem cerca de 40cm de altura. O formato das flores não difere muito do de outras espécies de Limonium, e é pelas folhas que melhor elas se distinguem. Atente nesse pormenor ao comparar o L. bollei com o Limonium arbustivo das fotos seguintes, muito ramificado, quase sem folhas e com inflorescências longas.
Do L. tuberculatum, de cuja presença há também registo no norte de África e em Cabo Verde, só se conhece hoje nas Canárias a população da ilha dos Lobos.