09/06/2010

Não é para pastar


Asphodelus lusitanicus Cout.

Um dos enigmas da flora nacional é a profusão de abróteas (género Asphodelus) em terrenos mais ou menos montanhosos onde há muito gado a pastar. Tirando estas herbáceas altaneiras (podem exceder o metro e meio de altura), fica tudo aparado à escovinha pela mastigação incansável de cabras, ovelhas e vacas. Claro que o enigma não é de grande calibre, nem exige penetração de espírito para ser desvendado. A opinião unânime da confraria herbívora é que as abróteas não são prato que se apresente. Como quase toda a concorrência é comestível, ficam elas sozinhas em campo e podem espalhar-se à vontade. Fazem-no de uma ponta à outra do nosso território, desde a serras do norte às planícies do Alentejo. E, adaptando-se bem a solos depauperados, conseguem mesmo, como sucede em Valongo, dar uma pincelada de cor às orlas dos eucaliptais.

O Asphodelus lusitanicus, que é o mais comum do seu género no noroeste do país, apresenta-se frequentemente ramificado: a haste central termina com uma inflorescência em forma de espiga, mas pode haver duas ou três inflorescências laterais mais curtas (visíveis na foto da direita). Outro traço distintivo é que a membrana acastanhada (ou bráctea) na base de cada flor é quase tão longa como o pedúnculo (no A. aestivus ela é bastante mais curta, e no A. fistolosus é igualmente diminuta).

O Asphodelus lusitanicus é um endemismo ibérico, presente sobretudo na metade norte de Portugal e na Galiza.

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