Adeus ao triste pinheiro
Foto: pva 0412 - Porto - Quinta do Covelo
ESTES SÍTIOS!
Olha bem estes sítios queridos,
Vê-os bem neste olhar derradeiro...
Ai!, o negro dos montes erguidos,
Ai!, o verde do triste pinheiro!
Que saudades que deles teremos ...
Que saudade!, ai, amor, que saudade!
Pois não sentes, neste ar que bebemos,
No acre cheiro da agreste ramagem,
Estar-se alma a tragar liberdade
E a crescer de inocência e vigor!
Oh!, aqui, aqui só se engrinalda
Da pureza da rosa selvagem,
E contente aqui só vive Amor.
O ar queimado das salas lhe escalda
De suas asas o níveo candor,
E na frente arrugada lhe cresta
A inocência infantil do pudor.
E oh!, deixar tais delícias como esta!
E trocar este céu de ventura
Pelo inferno da escrava cidade!
Vender alma e razão à impostura,
Ir saudar a mentira em sua corte,
Ajoelhar em seu trono à vaidade,
Ter de rir nas angústias da morte,
Chamar vida ao terror da verdade...
Ai!, não, não... nossa vida acabou,
Nossa vida aqui toda ficou.
Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro,
Dize à sombra dos montes erguidos,
Dize-o ao verde do triste pinheiro,
Dize-o a todos os sítios queridos
Desta ruda, feroz soledade,
Paraíso onde livres vivemos...
Oh!, saudades que dele teremos,
Que saudade!, ai, amor, que saudade!
Almeida Garrett, Folhas Caídas (1853)
1 comentário :
há tanto tempo foi postada tão linda poesia que nem sei se alguém vai ler meu comentário mas , mesmo assim,não posso deixar de dizer que gostei muito....
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